Aparentemente parece que é necessário escrever um texto, com pelo menos 4500 caracteres, para que um blog seja sério. Digo aparentemente porque me foi dito que um dos bloggers presentes no Congresso de Carcavelos opinou que o "31 da Sarrafada não é bem um blogue".
Se estás a ler este post, este post é para ti.
Conclusões sobre o Congresso do PSD por um gajo que gosta de política
1. Um partido que quer ser alternativa credível ao poder não pode ser tão desorganizado internamente
Numa empresa privada quem não cumpre horários é penalizado por isso. Quem não respeita as regras aceites por contracto é penalizado por isso. Não se percebe a falta de respeito que os membros do PSD têm pelos próprios membros do PSD no que diz respeito aos horários. Não houve um único dia em que os trabalhos tenham começado a horas.
2. Um partido que quer ser alternativa ao poder não pode esbanjar dinheiro nem recursos
Este congresso na mão de privados fazia-se num dia. Mesmo! O resto podia fazer-se usando o Facebook, o Skype, o Ning, o Twitter e o tradicional e-mail.
3. A União de Fachada
Não me batam já. Não vou usar o número de listas que se apresentaram para fazer valer o meu ponto de vista. O Rodrigo Saraiva foi amável, e paciente o suficiente, para me explicar que as listas que foram apresentadas nada tinham de extraordinário e o Carlos Ferreira também me deu um insight precioso sobre o PSD real.
Não é por aí. Esta união que Passos Coelho conseguiu dentro do PSD não é devida a nenhuma união real mas sim ao facto de que a fragmentação conseguida habilmente por Passos Coelho e a sua equipa não dará azo, no futuro mais próximo, para que alguém avance. Mesmo que alguém queira avançar não haverá ninguém para o seguir devido a esta fragmentação profunda. Esta é uma das razões. A outra razão para esta união, com a mesma ordem de importância, é a de que Passos Coelho é uma alternativa credível a José Sócrates aos olhos deste PSD. "Já temos o nosso Sócrates" foi uma frase que ouvi de um delegado que estava em Carcavelos. O PSD quer o poder a todo o custo nem que seja com um "Sócrates".
Esta união à volta de Passos Coelho, conseguida ao convidar os seus rivais para o seio da nova estrutura do PSD, pode funcionar para fora e ao mais alto nível do partido, mas será complicada, para não dizer impossível, de conseguir ao nível das estruturas locais. Existem demasiadas feridas abertas, demasiados rancores, demasiadas contas a ajustar e as facas já estarão a ser afiadas há algumas semanas muito especialmente por aqueles que voltaram agora ao partido, depois de uma longa travessia no deserto.
4. O longo caminho do PSD até ao poder
Passos Coelho tem aquilo que poderia ser considerado uma desvantagem mas que, nas actuais circunstâncias é uma vantagem: não é deputado. A sua imagem, se bem gerida, não será desgastada pela vida parlamentar e isso é uma vantagem. Se estivesse no Parlamento seria um alvo demasiado fácil para a máquina bicéfala, e bem afinada, constituída pelo Grupo Parlamentar do PS/Governo. A sua falta de experiência política a nível governamental e/ou parlamentar será, com toda a probabilidade, a arma de arremesso que será mais usada contra o novo dirigente do PSD.
Passos Coelho disse, no encontro com os bloggers, que "só por um milagre da ciência política este governo duraria 4 anos". O que é certo é que Sócrates não irá abdicar do poder, mesmo que no PS já se procurem alternativas internas. Nem Passos Coelho, nem ninguém no seu perfeito juízo, quereria ir para o poder com o PS em guerra interna. Os anos de poder deste PS criaram inimigos internos e se/quando Sócrates cair o PS ficará em estado de sítio o que não é positivo para o PSD, pois isso significa que o eleitorado do PS poderá fugir para a esquerda. As eleições presidenciais serão um momento chave quer para Passos Coelho quer para Sócrates. E note-se, que neste momento, o PS ainda não tem candidato.
Passos Coelho terá que a aproveitar este tempo para meter na ordem o seu grupo parlamentar (não, aquela conversa de "O PSD não é meu" não me convenceu de todo) e demonstrar, através do trabalho real dos deputados que o partido tem uma dinâmica de mudança e que este novo PSD é uma alternativa credível. Essa tarefa, neste momento, é quase a mesma do que convencer quem quer que seja que a Briosa ainda vai ser campeã nacional nesta época. Manuela Ferreira Leite deixou estragos profundos, Rangel na Europa não ajudou e Aguiar Branco estava demasiado escravo da anterior direcção.
O apoio do PSD a Cavaco Silva é a primeira das muitas cedências que Pedro Passos Coelho terá que fazer no seu caminho se quer chegar a São Bento. Pelo caminho terá que recuperar os que votaram no CDS, desiludidos pelo liderança de MFL, e Portas já demonstrou, por diversas vezes, uma habilidade política invejável que talvez lhe permita escapar ileso ao caso dos submarinos.
Acima de tudo, Passos Coelho, necessita de arrumar a casa, formar uma equipa e fazer no País aquilo que fez durante anos dentro do PSD. E é por isso, e apenas por isso, que não tem pressa.