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31 da Sarrafada

31 da Sarrafada

25
Nov10

Liga Europa: Afinal, este país é para velhos

Pedro Figueiredo

Bem sei: título fraquinho. A verdade é que o trocadilho cai que nem ginjas no tema da Liga Europa de hoje. Vai ser fácil de perceber, vão ver.

 

Admito que estou dividido. À primeira vista, numa análise mais superficial e imediata, confesso que fiquei (mais uma vez) desapontado com a medida governamental que tive oportunidade de ler num site exclusivamente dedicado a apresentar aos cidadãos seniores europeus oportunidades de gozarem a sua velhice na plenitude das suas capacidades financeiras, sem se preocuparem com aquilo que os impostos podem levar das reformas para as quais trabalharam durante uma vida inteira. Estes é que são do bom tempo, porque quando chegar à minha altura, e pelo andar da carruagem, terei que trabalhar até que a espondilose me doa. Isto se não morrer antes, o que para o Estado deve ser um alívio:"olha, menos um a delapidar a caixa de aposentações" (se nessa altura houver). Já faltou mais, se é que este pensamento já não passou pela cabeça de alguém...

 

A notícia, se ainda não foram cuscar o link, apresenta Portugal como um dos paraísos fiscais para a terceira idade mundial dados os benefícios que o Governo da República Portuguesa (não sei se sabem, mas é assim que o nosso país é denominado na Constituição, Portugal é para os amigos) estão a dar aos reformados estrangeiros que queiram fixar residência neste cantinho soalheiro e com baixo custo de vida.

 

Diz o artigo que nos primeiros 10 anos há o bónus de isenção de imposto, tentando assim cativar os reformados a trocar o cinzento e chuvoso Reino Unido ou a fria e nevada Alemanha por Portugal. Sim, porque são estes reformados e não aos da Albânia ou de Malta a quem o governo deve estar a piscar o olho e a flectir o indicador, como se de clientes se tratassem.

 

Como expliquei de início, primeiro senti-me desiludido. Então fazem isto aos estrangeiros... e os portugueses? E os que contribuíram a vida toda para que o país tivesse o que tem hoje? Imagino que esta medida seja uma espécie de dívida de gratidão para com os cidadãos das economias dominadoras europeias pelos seus precosos fundos comunitários, que inundaram este país de alcatrão e de centros comerciais, sob a batuta do actual Presidente da República. Mas como dizem os Homens da Luta: E o povo, pá? Não dá para estender a medida aos nossos reformados? Não têm direito? Ou está-se, subrepticiamente, a dizer-se-lhes para procurarem abrigo fora de portas?

 

Esta foi a minha análise a quente, como a nossa meteorologia. Depois veio a brisa nórdica. Calma. Isto até tem alguma lógica. Acena-se aos cotas ricos endinheirados com uma isençãozita de impostos, eles caem no ALLgarve (ainda mais) e à volta dos campos de golfe por esse país fora como moscas para de seguida, segundo os ensinamentos do Tio Sam, desatarem numa corrida desenfreada de consumismo no país, aumentando assim o PIB:

fonte PorData

 

Parece uma equação difícil de errar no resultado, verdade?

Se os objectivos se concretizarem, pode ser que nessa leva de imigrantes seniores venha alguém, ainda, com vontade de dar uma perninha na governação.

 

E à boa maneira da dialética socrática (do verdadeiro, o grego!), depois da tese e da antítese, vem a síntese. Ficamos num ponto intermédio, mas sem equilíbrio. É uma ideia com bons fundamentos e a finalidade até pode trazer benefícios, mas em última análise só revela mais do mesmo: uma perfeita desconsideração pela população, que tem todo o direito de se sentir discriminada com estas medidas. Por muito nobre que seja construir um estádio na Palestina, de que vale a nobreza quando se aumenta a carga fiscal sobre os medicamentos num país onde existem doentes que os vão deixar de poder comprar? Faz-me lembrar as praias de certos resorts de luxo espalhados por esse mundo fora: só para turistas. Proibida a entrada a autóctones.

 

Em resumo: este país, afinal, é para velhos, mas não para os da casa!

 

Já agora, este post não dispensa a leitura da notícia original (em inglês)

 

Imagem: David Dennis em Creative Commons

10
Jun10

Sabem onde devem meter os tectos para as reformas, sabem?

Catarina Campos

(estas merdas fazem-me logo virar na primeira à direita)

 

Diz a voz popular(ucha) - que agora fala cada vez mais alto e mais em coro - que alguém que ganhe umas coroas um bocadinho mais elevadas que o ordenado mínimo ou até um tudo nada mais, não faz um cu. Ou seja, assim até, vá, um salário mensal no máximo dos máximos de até 3.000 euros brutos, a malta ainda come (já não cala, mas come). Chegando ali à fasquia dos 5.000 euros, é a desgraça, esses gajos são uns ricaços, vígaros e, provavelmente, não fazem um cu. Para além desse muro dos 5.000 euros/mês encostam-se tipos execráveis, escravizadores do proletariado ou tachistas, a coçar micoses e a contar notas nas horas vagas. Esse é o primeiro preconceito que me começa logo a fazer alergias nos dedos e vontade de os espetar directos ao nariz de quem mete tudo num saco porque lê muita propaganda anti-rico em jornais e blogs e no fundo, no fundo, não só gostava de ver esses ricaços a fazerem contas ao leite e ao pão no hipermercado como ainda gostava mesmo era de guiar o provável Ferrari que esses cabrões de merda devem ter à meia dúzia nas garagens. E lá vem o chavão: os ricos que paguem a crise.

 

Hello, mentecaptos, sabem que mais? Ele há ricos e ricos, dos que coçam micoses, dos que são aldrabões, e dos que fazem contas ao leite e ao pão e são honestos trabalhadores. Tal como há pobres bons e maus e essas merdas. O que não acontece é que um tipo, com 5 ou 10 mil euros por mês seja propriamente rico. Vamos lá deixar de ser miserabilistas, sim? Quanto mais o país empobrece, mais a fasquia da classificação "rico" desce? Qualquer dia rico é o gajo que tem mais um euro que o outro. É mais rico que o outro, sim, mas não tem que pagar mais a crise.

 

Vem este dislate inicial (concedo, oh eu concedo tudo, face a disparates, só me apetece responder com outros tantos, como os que se lêem nos parágrafos acima) servir de prólogo a esta ideia de colocar tectos nas reformas. Aliás, iria jurar que já haveria qualquer coisa ou na calha ou no papel, nesse sentido, mas pelos vistos, afinal ainda é proposta e é do Bloco? Do PCP? Do PS? Não! É do PSD-PPC. Um tipo no qual se depositava tantas esperanças e afinal sai-se com uma destas. Aquele cabelinho na testa deve estar a tapar-lhe as vistas, só pode.

 

Senão, vejamos:

Vamos lá meter um tecto nas reformas ali nos 5.000 euros redondos, para efeitos de facilitar o raciocínio e não estarmos sempre a tropeçar nos restantes qualquer coisa euros.

 

- Uma pessoa que ganhe aquilo que dá direito a uma reforma de 5.000 euros, desconta x todos os meses para a reforma. Para além disso, ainda desconta 45% de IRS que é para pagar a crise e os que ganham mais que descontem mais e apesar de o estado o gastar muito mal, imagine-se que gasta bem: é justo. Ou enfim, é justiça social, vá. Ao fim de uma data de anos, já a cair da tripeça e cheio de AVC's, varises e dores nas cruzes, reforma-se com os 5.000 euros. (e é um cabrão de um rico que devia era levar um tiro de caçadeira de um pobre qualquer que nunca descontou um tostão mas que se sente injustiçado na sua reforma mínima, ai desculpem, está a fugir-me o pé para a demagogia outra vez!)

 

- Uma pessoa que ganhe aquilo que dá direito a uma reforma de 8.000 euros, desconta Y (atenção: não desconta o X do de cima, desconta mais) e mais os 45% de IRS e essas coisas todas. Quando chega à idade da reforma, AVC's, varises e demais quejandos, recebe, alto: só recebe 5.000 de reforma. Os restantes 3.000 volatilizaram-se no sistema de segurança social porque os ricos que paguem a crise, mais o IRS e ainda ofereçam mais um bocado da reforma deles para aquele ali de cima poder comprar mais chumbos para a caça aos ricos. Isto, no entender do PSD-PPC (e de mais 90% da população) é "justo".

 

Pois não é justo coisa nenhuma. (Teoricamente) aquilo que se desconta para a reforma é como se fosse uma poupança obrigatória, a constituição de um depósito a muito longo prazo, que, quando chegar a idade da reforma, passa para as mãos do dono, aos pinguinhos mensais. (Teoricamente também), esse depósito deveria ser aplicado de forma a, nessa data, ter gerado juros suficientes para um "bolo" que nuns certos anos (mais 20 ou 30 em média, consoante a média de esperança de vida ou lá o que será que a Segurança Social calcula) depois seria entregue ao dono, em prestações mensais. Na prática, claro, as contribuições para as reformas futuras servem para pagar as reformas presentes e o sistema é todo ele uma bosta, sustentado anualmente pelo OE, mas isso são outros quinhentos que se chamam "má gestão" mas se fosse bem gerido até o diabo se ria, já que apenas segue a tendência normal de todo o Estado.

 

Querem mesmo justiça mesmo mesmo? Então que se faça como noutros lados, em países civilizados. A reforma igual para todos. Reforma pelo ordenado mínimo. Mais igualdade não pode haver. Mas o outro lado desse sistema é o seguinte e isso, sim, é que é justo: toda a gente desconta o mesmo, já que vai receber o mesmo, quando chegar à idade da reforma. Muito mais simples e económico, não é? E ainda retira peso ao estado, basta meia dúzia de servidores com um programa a fazer cálculos e toda a gente que trabalha agora naquilo pode ir fazer uma coisa mais útil.

 

Por mim é já: passo a descontar apenas para essa reforma justa, mínima, equalitária, e com o resto logo me organizo, no privado (e em Espanha, se for caso disso, que a ideia peregrina de o tecto abranger também outros planos de poupança que as pessoas foram fazendo, essa, então, é de bradar aos céus que nos estão a ir ao bolso, á carteira e ao pé de meia). Ah. Mas devolvam o que as pessoas já descontaram entretanto para a reforma a que têm direito, pelos montantes que descontaram. Como?! Não há dinheiro??? Mas então afinal a proposta é por justiça ou por falta de liquidez?

 

Ahpoizé.

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