Numa destas manhãs ouvi, na M80 (imagine-se), um daqueles apontamentos económico-políticos para básicos (como eu) lavrado por Camilo Lourenço. Disse, com uma semana de antecedência, aquilo que o presidente do Millennium BCP veio dizer e que é uma constatação óbvio: com estes juros da dívida,
é mais fácil alimentar um burro a pão-de-ló! Com um financiamento externo destes, duvido até se a Cetelem ou a Mediatis não fariam um preço mais em conta a Teixeira dos Santos. Até lhes renovavam a frota de carros ministeriais outra vez, tipo surpresa num ovo kinder.
Publicidades à parte, o esforço do nosso Primeiro em retardar ao máximo a entrada dos bulldozers da finança mundial é meritório. É pena é ter sido preciso atiçarem o orgulho nacional - com o fantasma do FMI - para os merceeiros do Terreiro do Paço tirarem o lápis da orelha
e fazerem as contas com mais atenção. Ainda falta saber se tamanha travadela, como lhe chamou o Expresso, foi à custa da despesa ou da receita, isto é, se temos ABS ou se com esta chuva que não passa, os travões de servo-freio não bloquearam as rodas e não estamos em pleno bailado para despiste.
Mas bom esforço na mesma, Zé. Parece-me é que esses autênticos bond road-shows que fez nos últimos tempos, a que o Expresso tão humoristicamente até comparou às milhas que poderia ter acumulado se tivesse cartão Victoria (TAP) - que já valia uma ida e volta a Nova Iorque à borla! -, mais não foram do que visitas de cortesia, boas para aprofundar as relações internacionais. A não ser que tenha implorado pela compra de títulos. Se assim for, so long Marianne!
Camilo Lourenço falou ainda no discurso arrumadinho do homem que quer ocupar o lugar de Primeiro. Demasiado arrumadinho, nas palavras do especialista. Tem percebido que o novo manda-chuva da São Caetano à Lapa tem tido margem de manobra para actuar, querendo vê-lo mexer-se quando a pressão começar a apertar. Que é como quem diz, quando o calor começar a fazer-se sentir na cozinha. E ainda segundo o Expresso, parece que o forno já está ligado. E a uma temperatura tão alta que não será difícil alguém sair queimado
antes do prato ser servido aos portugueses. Não é preciso mandar calar ninguém, porque para isso já houve quem tivesse sugerido fechar a democracia por seis meses e deu-se mal. Basta, como diz a nossa querida sarrafeira
Catarina Campos, mandar
sossegar a franga dos militantes mais entusiasmados. É que a minha avó também tinha um ditado popular para estas ocasiões:
cadela apressada, pare crias cegas e o Ensaio sobre a Cegueira já paga direitos de autor.
Imagem: "Burn Baby Burn" Alguns Direitos Reservados por Abstract Gourmet