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31 da Sarrafada

31 da Sarrafada

04
Nov10

Bamo lá acalmar essa franga macro-financeira

Catarina Campos

 

É um facto que estamos ali a uns meros 26 p.b dos fatídicos 7% de preço da dívida publica, que é o número-chave para o FMI vir logo a correr e essa coisada toda, de acordo com o MF que, como todos nós sabemos, nunca se engana (só acima de € 800 milhões de erratas), donde o que ele diz sobre a meta dos 7% claro que se aplica, certo?

 

E também claro que toda a gente sabe que a subida da taxa de juro da dívida foi por causa de ter passado um péssimo OE na AR: ou seja, apesar de ter passado, os mercados, esses mauzões, olharam para Portugal e disseram "aquilo mesmo assim não vai lá, portanto carrega nos gajos!". Até pode ser possível que isto não vá lá e os mercados mauzões carreguem para ter uns ganhos melhores, porque não são sensíveis - feios! - aos apelos do nosso MF, para que deixem de ser mercados e sejam bonzinhos só connosco, só agora, porque estamos precisadinhos.

 

Não obstante, desenganem-se os comentadores "the doom day is upon us". Estar está, mas não é por causa disso. Calha é que, coincidindo com a aprovação por passagem administrativa do OE na AR, do lado de lá do Atlântico, naturalmente animado pela notícia que agora o Obama já mandava menos, desde que terça feira perdeu o Congresso para os republicanos, o FED resolveu dar um valente empurrão no consumo (curiosamente os EUA, tendo aquela dimensão toda que funciona com uma grande dose de consumo interno, quando querem empurrar a economia, empurram o consumo que aumenta a produção que cria mais riqueza e por aí fora). Vai daí, empurrou com o anúncio da compra de 600 mil milhões de dólares, baixando dessa forma as taxas de juro, o que vem permitir uma maior facilidade de endividamento para gastar em consumo interno e etc etc, como já expliquei antes.

 

Entretanto os mercados internacionais, fartinhos de estarem parados a olhar para o Canal Parlamento a passar na Reuters, olharam para o ecrã do lado e viram uma coisa que lhes pareceu simpática. De repente, as acções começaram a subir. Ora ele há dois mercados (até há muitos mais, mas para efeitos de simplificação, consideremos só dois): a Bolsa de acções e o mercado obrigacionista. E os recursos para investir, sendo sempre escassos, por muitos que sejam, metem-se no cesto que está a pagar mais. E hoje o cesto que estava a dar era o das acções. Maiores compras de acções, menos procura de obrigações (entre as quais as da dívida portuguesa), daí que as obrigações desvalorizam e os juros sobem. Não foi só a dívida portuguesa que sofreu, mas como está débil, sofreu mais.

 

É a porra do bater de asas da borboleta, embora o FED seja mais uma louva-a-deus com asas e a teoria do caos funciona sempre. Já a umbiguice de achar que foi só por causa de nós, sinceramente para os mercados internacionais, nós não somos nada senão uma forma de ter algumas mais-valias. E se fossem vocês lá a clicar nas ordens de compra e venda fariam exactamente a mesma coisa.

 

 

[imagem de Toban Black sob uma licença CC]

02
Nov10

Debate do Orçamento

Catarina Campos

 

 

Luis Meneses (deputado do PSD): "Estas instituições, muitas delas desconhecidas dos portugueses, e a maioria inúteis, estão enxameadas de 'boys socialistas"

 

Teixeira dos Santos (Ministro das Finanças do PS): "Falando em 'boys', o jantar da ANACOM foi, de facto, promovido por uma 'girl' nomeada pelo [antigo] primeiro-ministro Santana Lopes"

 

Um mete-se a jeito, o outro responde à letra...é a elevação do discurso político português, um exemplo para todos nós.

28
Out10

O OE e o FMI trocado em moedas de cinco cêntimos

Catarina Campos

Antes do mais, recomenda-se a leitura deste meu post, para se perceber o que é o défice.

Depois faz-se aqui um disclaimer, que esta é, como sempre, a minha opinião absolutamente pessoal.


Segue o OE num parágrafo e o resto em mais uns quantos.


o OE (Orçamento de Estado) é exactamente a mesma coisa que todas as minhas caras leitoras, no seu papel de donas-de-casa, fazem todos os meses, com a diferença que o Estado é a Casa delas e portanto fazem o OC. De resto é igual: entra dinheiro de várias fontes - receita - e sai para vários lados - despesa. Receita, no OC é salário+/ou outras fontes de rendimento, no OE é impostos + NADA; despesa no OC é pagar contas e no OE é pagar contas. Qualquer dona-de-casa eficiente faria uma melhor figura a gerir este país que este conjunto de nabos, mas isso já são considerações de ordem subjectiva, que vou tentar conter, mas ainda farei mais uma: sabem as caras leitoras quando se vêem a braços com aquelas situações em que ainda falta pagar a conta da água e da mercearia e aparece o parceiro com quem se divide receitas e despesas, todo contente com um saco de dvd's, livros para acrescentar à pilha e mais umas quantas merdas de bricolage, decoração e animação automóvel? Trocado em OE's, esses saquinhos de bens não essenciais, são submarinos e TGV's: brinquedos de gajos. Lá está. QED e siga para o FMI.


Escusado será alongar-me na parte em que se indica que

- o OE proposto é uma merda

- Os gajos não se entendem

- Misturar política com economia só dá porcaria

que isso toda a gente já sabe.

 


Vamos lá então para o mito FMI.


Só vamos saber se o OE é aprovado daqui a uns dias. Entretanto toda a gente (incluindo os portugueses) já percebeu que isto não está grande espingarda e digamos que a confiança, quer interna, quer externa, está pelas ruas da amargura, sendo que está última é inversamente proporcional ao estado da dívida pública. Uma desce, a outra sobe: se parece que não conseguimos pagar a conta, os juros sobem, porque o risco aumenta, obviamente. As caras leitoras emprestariam o melhor par de sapatos a uma amiga que o devolveria em estado impecável e a amiga oferecia uns chocolates como agradecimento, mas se soubermos que a amiga dá cabo deles, se calhar dizemos-lhe, olha filha empresto-tos mas empresta-me aí esse casaquinho entretanto, que se os sapatos vierem todos lixados, vês o casaco por este canudo - esta é a posição dos investidores estrangeiros, a dívida externa é exactamente a mesma coisa: se a malta não paga, pois obviamente que dá em troca o casaco. Neste momento estamos na fase de até já dar as cuecas, ou inclusive baixá-las. Financeiramente falando, claro.


Face a isto temos três hipóteses: ou há OE ou não há. A terceira (que é separadas das duas primeiras, porque havendo ou não havendo OE aprovado, a verdade é que o FMI  vai começar a falar mais em português e eu não acredito em coincidências e sim em circunstâncias e planeamento) é o tal do FMI que está para os portugueses como a Nossa Senhora de Fátima. Entra por aí fora a pedido e preces, faz uns milagres e isto fica tudo lindo. Era bom, mas não é nada assim, minhas amigas.


Primeiro, um país que não consegue ter um OE aprovado, é uma vergonha. Todos sabemos, mas isso tem um preço. Ok, pois o brio deste país não vale porra nenhuma, adiante, esqueçam, somos incompetentes e atestamos com um chumbo no OE que de qualquer forma é uma merda. Venha o FMI, vamos supor.


O FMI chega e endireita? Diz-se em jeito de mesa de café, que venha, endireita este descalabro todo de uma vez, já que ninguém consegue. Eu também, confesso, tenho esse meu lado de pastorinho à beira da oliveira. Mas agora, mais que nunca, temos que pensar friamente. O FMI chega, analisa e corta. Sim, a dívida externa baixa. Sim, endireita qualquer coisa. E sim, corta a direito. Corta a direito, perceberam? Não há mais conversa, discussões sobre o preço da margarina ou sobre gente a comer de caixotes do lixo. Corta mesmo onde for preciso. E depois, dá o dinheiro a quem? Ah a quem governa. Pois é. Naquela, corta-se aqui e tomem lá mais, agora ganhem juízo. Alguém acha que isto resulta?! Eu tenho algumas dúvidas. Tenho sempre dúvidas quando é preciso tratar os países como crianças mimadas que partem os brinquedos e pedem outros, porque não tenho a certeza que cresçam se lhes derem um raspanete e brinquedos novos. Queria muito - de mãos postas - que o FMI resolvesse todos os nossos problemas. Mas infelizmente, parece-me que também não é por aí.


Soluções fáceis? Não há. Há e vai haver um país pobre a levar cada vez mais pancada até mudar de hábitos. Até nos convencermos todos - todos - que assim não vamos lá. Até nos convencermos que temos que fazer mais, muito mais, gastar menos, muito menos, a troco de ainda menos. E essa porra custa. A única razão que me leva a isso, que me motiva é só uma: é o MEU país. É o país dos nossos filhos. Ainda é, pelo menos. É um bocado de brio e teimosia e ainda acreditar que há gente decente.


E este post virou lamechas e irracional, portanto fica já por aqui com uma nota final para reflexão: não há milagres grátis.

20
Out10

O PSD e a margarina

Catarina Campos

 

Entre as três da tarde e as sete e pouco da noite, o futuro cabaz de compras dos portugueses teve uma futura descida do futuro IVA de 23% para 6%.

 

E é assim que um prometedor potencial futuro primeiro ministro passa à história como "o homem que tentou reduzir o preço da margarina".

 

 

 

[imagem de Dishevld sob uma Licença CC]

14
Out10

E os pressupostos de um OE desses, onde é que estão?

Catarina Campos

António José Seguro apresentou uma proposta para a revisão constitucional que consiste num OE construtivo. É uma ideia gira: o Governo apresenta um OE e os partidos da oposição apresentam OE alternativos; ganha o que tiver mais votos, é com esse que se governa e quem governa passa a ser a maioria que apresentou o OE ganhador. Se não houver alternativas, nem sequer se vota o OE do Governo.

 

Sendo uma ideia gira, passemos à sua aplicabilidade. Como o país não arranca do zero a cada OE e tem, entre outros detalhes, obrigações a longo prazo a cumprir (por exemplo, coisas que podem ser passíveis de esquecimento como prestações a pagar de aquisição de submarinos e outros naperons) onde é que estão os pressupostos para esses OE alternativos? Quem é que faz uma  due dilligence às contas do Estado?

 

[ah poizé...de boas intenções está o inferno cheio]

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