Bamo lá acalmar essa franga macro-financeira
É um facto que estamos ali a uns meros 26 p.b dos fatídicos 7% de preço da dívida publica, que é o número-chave para o FMI vir logo a correr e essa coisada toda, de acordo com o MF que, como todos nós sabemos, nunca se engana (só acima de € 800 milhões de erratas), donde o que ele diz sobre a meta dos 7% claro que se aplica, certo?
E também claro que toda a gente sabe que a subida da taxa de juro da dívida foi por causa de ter passado um péssimo OE na AR: ou seja, apesar de ter passado, os mercados, esses mauzões, olharam para Portugal e disseram "aquilo mesmo assim não vai lá, portanto carrega nos gajos!". Até pode ser possível que isto não vá lá e os mercados mauzões carreguem para ter uns ganhos melhores, porque não são sensíveis - feios! - aos apelos do nosso MF, para que deixem de ser mercados e sejam bonzinhos só connosco, só agora, porque estamos precisadinhos.
Não obstante, desenganem-se os comentadores "the doom day is upon us". Estar está, mas não é por causa disso. Calha é que, coincidindo com a aprovação por passagem administrativa do OE na AR, do lado de lá do Atlântico, naturalmente animado pela notícia que agora o Obama já mandava menos, desde que terça feira perdeu o Congresso para os republicanos, o FED resolveu dar um valente empurrão no consumo (curiosamente os EUA, tendo aquela dimensão toda que funciona com uma grande dose de consumo interno, quando querem empurrar a economia, empurram o consumo que aumenta a produção que cria mais riqueza e por aí fora). Vai daí, empurrou com o anúncio da compra de 600 mil milhões de dólares, baixando dessa forma as taxas de juro, o que vem permitir uma maior facilidade de endividamento para gastar em consumo interno e etc etc, como já expliquei antes.
Entretanto os mercados internacionais, fartinhos de estarem parados a olhar para o Canal Parlamento a passar na Reuters, olharam para o ecrã do lado e viram uma coisa que lhes pareceu simpática. De repente, as acções começaram a subir. Ora ele há dois mercados (até há muitos mais, mas para efeitos de simplificação, consideremos só dois): a Bolsa de acções e o mercado obrigacionista. E os recursos para investir, sendo sempre escassos, por muitos que sejam, metem-se no cesto que está a pagar mais. E hoje o cesto que estava a dar era o das acções. Maiores compras de acções, menos procura de obrigações (entre as quais as da dívida portuguesa), daí que as obrigações desvalorizam e os juros sobem. Não foi só a dívida portuguesa que sofreu, mas como está débil, sofreu mais.
É a porra do bater de asas da borboleta, embora o FED seja mais uma louva-a-deus com asas e a teoria do caos funciona sempre. Já a umbiguice de achar que foi só por causa de nós, sinceramente para os mercados internacionais, nós não somos nada senão uma forma de ter algumas mais-valias. E se fossem vocês lá a clicar nas ordens de compra e venda fariam exactamente a mesma coisa.
[imagem de Toban Black sob uma licença CC]