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31 da Sarrafada

31 da Sarrafada

20
Out10

O dinheiro desaparecido - Economia e Finanças para totós

Catarina Campos

Toda a gente fala muito sobre não haver dinheiro (e não há), que é preciso ir buscá-lo, caríssimo, ao BCE (e é) e que esse facto tem por consequência o não haver dinheiro (a tal falta de liquidez) que por sua vez causa o aumento do preço (taxa de juro) do dito dinheiro. Se o dinheiro está caro, é difícil adquiri-lo para depois poder dar largas ao consumismo (não sobrando para poupança).


Mas porque raio está o dinheiro caro por ser escasso? Porque é que é escasso? Para onde é que ele foi? É que temos sempre esta noção - errada - que o dinheiro muda de mãos, mas circula sempre, se não está aqui no nosso bolso, há-de estar noutro bolso qualquer. É com essa noção que depois se consegue enganar meio mundo, acusando alguns de o acumular depois de o roubar da nossa mão. E também acontece, evidentemente, mas não explica o desaparecimento do dinheiro no seu todo.


Pois eu, caríssima leitora, estou aqui hoje para desvendar o mistério do dinheiro desaparecido da economia, porque, lamento imenso dar-lhe este choque, esse tal dinheiro desaparecido, foi a cara leitora que o deitou fora. Eu?! gritam as minhas amigas desesperadas, como?! eu deitar dinheiro fora, quando ele já é tão pouco?! Impossível.


Infelizmente não só não é impossível, como é o que realmente aconteceu. Ora sigam lá o rasto do dinheiro desaparecido comigo e vamos ver onde se ele foi parar ao lixo ou não: como exemplo, vamos utilizar a cara leitora (salvo seja) e uma quantia de vá, 1.000 (mil) euros. 
Os mil euros saíram do Banco Central Europeu rumo a um qualquer banco português, onde a cara leitora os foi buscar, em troca da promessa de os pagar em suaves prestações mensais e pagando um preço que é a taxa de juro. Ou até entraram nesse banco português e saíram para a carteira da leitora sob o formato de salário. Para o efeito tanto faz.


A cara leitora pegou nos mil euros e gastou-os da seguinte forma (muito resumida):

 

1. Pagou 300 de prestação da casa

2. Pagou 100 para escolas, livros, almoços de cantina e fatos de treino para a sua prole

3. Pagou 200 de contas de electricidade, água, telefone, gás, etc.

4. Pagou 200 em supermercado

5. Pagou 50 de transportes

6. Pagou 150 por uma televisão nova


Vamos ver para onde foi este dinheiro todo. E vamos pensar nisto a preto e branco, deixando os cinzentos para outro dia: ou o dinheiro volta para a economia ou vai para o lixo. É evidente que todo ele, de uma forma ou de outra, está a pagar por coisas, bens ou serviços, e regressa à economia, a quem forneceu esses bens e serviços. Mas o seu, cara leitora, em si mesmo, não volta para lado nenhum, tirando o investimento no ponto 1 (investimento em bens imóveis) e, de uma forma mais incorpórea, em 2 (investimento na educação das crianças, a caminho de um brilhante futuro de desemprego, desespero e piromania automóvel).


O resto vai para o lixo. A electricidade e o gás volatilizam-se, a água segue para o esgoto, o cabaz de compras segue para o mesmo cano e por aí fora. A televisão há-de seguir o caminho do aterro daqui a uns tempos, embora nos digam que será reciclada, os transportes usam-se e aquela viagem já não se usa mais.


Percebem? É tudo coisas que desaparecem. Assim como o dinheiro que as pagou. Serviu para alguma finalidade? Claro que sim, manteve-nos vivos e, de preferência, de boa saúde e devidamente acolchoados em autocarros e programas de televisão. E o dinheiro, foi para algum lado? Foi, regressou à economia, de facto. Mas há esta parte que se perde, no último utilizador do bem ou serviço. O dinheiro foi, no final do caminho, para o lixo.


Perceberam? É uma teoria bem esgalhada, não é? Pois. Mas é tudo tanga. :) (desculpem, mas não resisti...:D)

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