"Manif by Surprise"?
José de Pina na sua crónica no "I", diz-se "atónito" com a marcação da manifestação de apoio à WikiLeaks no Chiado. Sendo que o país precisa tanto de um José de Pina atónito como a Manuela Moura Guedes precisa de mais uma plástica sou obrigado a escrever este post, pedindo desde já desculpas ao José de Pina por o ter mantido atónito durante estes dias todos.
"No Chiado porquê? Ali não se localizam nem a embaixada dos EUA, nem a da Grã Bretanha, nem a sede do BCP." escreve José de Pina.
A manifestação foi marcada, e devidamente autorizada pelo Governo Civil, para o Chiado exactamente por ser um lugar neutro e sem conotação política. (Este era pelo menos o plano que foi estragado com a passagem pelo meio dos manifestantes do Rui Pedro Soares). Só um idiota faria uma manifestação em frente à embaixada da Austrália que teve um comportamento perfeitamente natural em relação ao que se passava com um cidadão do seu país, ao menos que o José de Pina quisesse que o pessoal fosse para a Avenida da Liberdade gritar: "Austrália, amiga! Contigo não há espiga!" o que, temos que convir, seria um slogan refrescante no panorama nacional mas um pouco ao lado dos objectivos da manifestação. Em frente à Embaixada dos EUA era impossível pois a manifestação foi organizada, e autorizada pelo Governo Civil, em pouco mais de 3 dias e para se fazer uma em frente à embaixada dos EUA são precisas mais formalidades do que para se realizar uma manifestação num outro local. Quanto à sugestão do BCP percebe-se que José de Pina ainda não percebeu muito bem o que está em jogo, como aliás o próprio diz na sua crónica ["Ainda não tenho opinião sobre o WikiLeaks"].
José de Pina, uma das mentes mais brilhantes e acutilantes que este país tem, falha completamente o seu raciocínio ao (tentar) estereotipar quem são os apoiantes da WikiLeaks - que "Surprise! Surprise!" - vêm de todos os quadrantes da sociedade (quer em Portugal quer no estrangeiro) e não é capaz de pensar um pouco mais além, coisa que os organizadores conseguiram: em vez de se fazer uma manifestação com palavras de ordem optou-se se fazer uma manifestação pedagógica onde todos aqueles que se aproximavam dos manifestantes - por sua livre vontade - eram esclarecidos sobre o que era o WikiLeaks e porque razão ali estávamos.
"É um novo conceito: não são as pessoas que vão às manifs, são as manifs que vão às pessoas/clientes." O conceito não é novo e a linha de raciocínio (ou de crack) de José de Pina demonstra que ainda não percebeu que já lá vão os tempos em que os tractores iam buscar as populações para se manifestarem em frente à praça do coreto ou no largo da feira, devidamente isolados de tudo o resto. Hoje o que interessa é realmente sensibilizar as pessoas para os temas, esclarecer, dialogar. Claro que seria muito mais apetitoso para muitos se tivessem existido distúrbios, montras partidas, sangue e cargas policiais. Daria abertura nos telejornais, as imagens repetidas ao infinito e um dia cheio para os jornalistas e opinion makers.
O Chiado é um ponto central em Lisboa, com bons acessos o que permitiu juntar cerca de 100 pessoas num Sábado à tarde e mais uns quantos polícias. Nenhuma das pessoas que passavam pelo Chiado, fazendo as suas compras de Natal se queixou de ser abordado por nenhum dos manifestantes e foram alguns que nos abordaram para saber o que se passava ali. Pedagogia.
Se o José de Pina acham que isto é spam tem um bom remédio: faça uma queixa contra o Governo Civil de Lisboa por autorizar fazer uma manifestação no Chiado. Não se esqueça também de ao mesmo tempo fazer uma queixa contra o Corpo Nacional de Escutas que manda os putos tocar a música dos "Simpsons" mesmo ao lado da Igreja na Rua Garret (e neste caso sem autorização).
Quanto mais leio a crónica de José de Pina mais penso que há ali uma confusão enorme entre o que é um flash mob e uma manifestação devidamente autorizada: Alguém que lhe explique isso, por favor.