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Sim, estou de baixa e a culpa é da Greve Geral e do consumo elevado de televisão. Aliás, a culpa é dos Franceses. Passo a explicar.
Um tipo ouve falar de Greve Geral e de imediato o imaginário remete para multidões na rua, o país paralizado, sem gasolina, uns carros a arder nos bairros mais desfavorecidos. A verdade é que quando se ouve falar de greve geral a mente viaja logo para França e as expectativas ficam por ali a pairar como o cheiro de um croissant com creme acabadinho de saír do forno que chama por nós.
Ontem já a caminho de casa parei para beber um café e estava a rever as fotografias que tinha tirado quando, um casal francês que estava ao meu lado me perguntou "Quando é que é a greve geral?" ao que eu respondi "Foi hoje". O "Ahhh..." que recebi como resposta - com reticências e tudo - bateu-me no peito como um prato de nouvelle cuisine que tem um nome com pelo menos 20 palavras mas afinal é apenas uma peça minúscula de carne com uma rodela de cenoura em cima. Ou seja, fiquei furioso.
E fiquei furioso não com os franceses, que sabem fazer uma greve geral como deve ser, mas sim com a letargia reinante neste país onde toda a gente rezinga no café, na mercearia, nos restaurantes mas depois, quando chega o dia de se mostrar esse descontentamento em massa o pessoal não aparece. Tem mais que fazer. Prefere ficar na pastelaria a comer o tal do croissant.
No Rossio estavam umas 300 pessoas, se tanto. Um grupo de 60 associações de artistas, trabalhadores precários e flexíveis mais um grupo de trabalhadores das Páginas Amarelas e vários deputados do Bloco de Esquerda juntou 300 pessoas fazendo-me lembrar a famosa #ManifAr onde um grupo de 85 blogs juntou 150 pessoas em frente à Assembleia da República. Entre essas associações de artistas a ZDB (Galeria Zé dos Bois) que deveria era começar a pagar decentemente aos artistas que lá actuam.
Um repórter de imagem confessava que ali no Rossio era onde tinha visto mais gente junta durante todo o dia, ali num Rossio vazio com duas gruas a montarem a iluminação de natal à volta da estátua do Dom Pedro V com o barulho do ferro contra ferro a ser feito soar por quem trabalhava sobrepunha-se aos discursos vazios e sem inspiração de quem fazia greve.
Seria de esperar da comunidade artísitica Portuguesa mais imaginação, mais garra e mais irreverência para não falar de mais poder de mobilização que claramente não tem. Mais ainda, seria de esperar de todos aqueles que apelaram à greve, que apelaram a que se mostrasse inequívocamente a este governo que já chega de trapalhadas que saíssem à rua e realmente parassem o país, doesse a quem doesse, fosse preciso o que fosse preciso.
"A greve faz-se pela ausência" dizia-me um fotógrafo da France Press. E mais uma vez pensei em todas as imagens de milhares de pessoas a descerem pela ruas de Paris, durante dias a fio até conseguirem forçar a mão do Governo. Também pensei que não se teria perdido nada se em vez de termos assimilado aquela maneira chata de fazer filmes e teatro Francesa tivessémos antes assimilado o espírito reenvidicativo.
Manuel Alegre acordou com um pássaro a saudar a greve. Sócrates não acordou com ninguém à frente da sua casa a gritar. O Largo do Rato era um deserto. Em frente à Assembleia da República ninguém. No Rossio foi o que se viu.
Gorado nas expectativas criadas e a precisar de tomar o terceiro Prozac da manhã, hoje estou de baixa e a culpa é dos Franceses.
Já se estava a prever isto. Alguém disse ao Cristiano Ronaldo que tinha que estar no Twitter, porque sim, que era moderno e o rapaz deve ter assinado um cheque chorudo a um primo de alguém que tem uma conta no Hi5 e que disse que entendia imenso desta merda.
Hoje, o tal do primo de alguém achou por bem colocar este tweet:
A foto em questão colocada no serviço Twitpic é esta:
Foto essa que foi tirada em 2007 durante as filmagens deste anúncio para o BES:
Agradecimentos ao André Oliveira pela dica sobre a data original da foto.
1. A maior atracção da noite foram os dois musculados rapazes, em cima de dois bidons, que foram fotografados dezenas de vezes ao lado de raparigas. O estereótipo YMCA no seu pior a fazer a alegria de muitas moçoilas.
2. As "Chicks on Speed" deram um concerto fantástico, bastante melhor do que tinha vista no SONAR em Barcelona, e o momento de invasão de palco consentida, ao final do concerto, também foi muito bem conseguido. Kudos!
3. Muitas pessoas foram ao Terreiro do Paço "só para ver" o que demonstra que muito ainda tem que ser feito em termos de mentalidade da sociedade em geral.
4. A piada da noite foi sem dúvida a frase "Amor ao primeiro visto" tal não eram a quantidade de jovens Brasileiros a "apaixonarem-se" perdidamente pelos já-não-tão rapazes Portugueses.
5. Rui Murka deu provavelmente o mais embaraçoso prego da sua carreira como DJ.
6. Continuo a pensar que meter alguém como a Maya no meio de tudo isto é um erro de casting. Aquele anúncio das festas que anda a organizar soou a chouriço. A frase "Homens! Se algum se quiser reconverter eu estou disponível" é de uma tristeza e estupidez que em outros países teria merecido bem mais do que silêncio: teria merecido uma imensa vaia.
7. Os vestidos de noiva... sem comentários. É por estas e por outras que as pessoas vão lá ver o freak-show. Podem fazer um favor e deixarem-se dessas paneleirices? Ajudava a causa, a sério.
Esta é só mais uma das lamúrias que de há uns meses a esta parte inunda tudo o que é coluna de opinião desde os jornais aos blogues passando pelo Twitter. É o Parque Mayer da intelligentzia lisboeta. Quais artistas revisteiros à bolina e sem encontrar uma doca já desaparecida, desde as coristas aos fadistas e outros artistas terminados ou não em “istas” saudosos dos idos de glória e aplausos: não deixem morrer o Maria Vitória, não deixem morrer o Variedades, é um crime a destruição do Capitólio, “a Buchholz vai reabrir”. Give me a break!
É sina ou castigo andarmos sempre a cantar o Ó Tempo Volta Para Trás?
(Nunca pus os pés na livraria Buchholz, não sabia da existência duma livraria chamada Buchholz, nem para que lado ficava a livraria chamada Buchholz e nunca senti a falta de ir ver uma revista “à portuguesa” ao Parque Mayer)
(Imagem)
(Em stereo)
Escolhemos o caminho a pé e a nado, por nos parecer mais simpático e aquele que ajudará a uma digestão mais completa dos resultados de ontem.
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