O INPI, o ISCTE e as camisas por engomar
Anda por aí tudo a falar do valor de €20.400 pagos pelo INPI ao ISCTE para gerir a sua conta de Twitter. Ao ler a notícia no Correio da Manhã - who else? - fica-se com a sensação de que se pagou essa quantia para proceder à abertura da conta; ao se ler a reacção do INPI fica-se a saber que afinal os €20.400 pagos cobrem o período de um ano e que estão envolvidas duas instituições - o ISCTE e a uma empresa chamada "5ª Potência" - que são responsáveis por criarem os conteúdos e gerirem a conta do INPI bem como produzir uma newsletter mensal.
Diz a Alda Telles que do que viu superficialmente "parece-me uma timeline cuidada e diversificada, orientada para os objectivos enunciados, e de quem sabe utilizar a ferramenta." Eu discordo totalmente nesta parte mas não me parece que o valor em causa seja escandaloso: afinal dividindo os €20.400 por duas entidades por ano, dá €850 por mês a cada uma.
Se é sabido que anda por aí muito boa gente a fazer uma fortuna com isto das redes sociais e a pagar miseravelmente a quem de facto faz o trabalho também é sabido que preparar conteúdos que consigam gerar o tal do engagement que está tão na moda não é tarefa simples.
E aqui a conta do INPI falha total e redondamente, isto é, quem gere de facto a conta falha total e redondamente. Porquê?
1. No último mês a conta do INPI gerou 1 RT - se excluirmos os RTs feitos hoje ao desmentido - o que diz claramente que as poucas pessoas que seguem a conta não acham o conteúdo o interessante o suficiente para o espalharem pela sua respectiva rede.
2. Nenhum dos tweets inclui uma ou mais # que os fariam cair no radar de quem não segue a conta mas esteja interessado nas temáticas abordadas.
3. Não existe um cuidado - como o exemplo da imagem acima - no que está a ser enviado. O twitter não é um concurso de speed typing especialmente quando se está a ser pago para isso e se está a representar uma instituição ou marca.
Este caso do INPI é interessante por duas razões distintas:
1. O valor pago pelo serviço não é escandaloso, antes pelo contrário.
2. O INPI adjudicou o serviço a quem não percebe absolutamente nada de Twitter, tornando o preço pago um escândalo.
Até pode haver aqui um tacho, um boy ou girl favorecidos - com €850 por mês - mas o que é um facto é que o INPI adjudicou um serviço a ser prestado durante um ano por €20.400. Como no INPI ninguém percebe nada de Twitter - senão não tinha feito outsourcing - os seus responsáveis nem sequer souberam estabelecer objectivos para a conta o que se traduz no número de seguidores da mesma e no seu alcance real após um mês de funcionamento.
Isto mal comparado é contratar uma pessoa para nos engomar 100 camisas por €50 e depois as camisas serem entregues todas mal passadas ou queimadas e não podermos fazer nada. O preço até estava em linha com o que praticam outras engomadeiras mas o resultado final custou muito caro.
E esse é o facto realmente escandaloso em toda a esta história.