Liga Europa: In Vino Veritas
Lembro-me que no início da década de 1990, veio cá ao burgo um iluminado (e não, não estou a ser irónico), de seu nome Michael Porter, como consultor do governo de sua excelência, o professor Anibal Cavaco Silva. Basicamente, veio dizer-nos a que é que a malta se tinha de agarrar para sermos competitivos no mecado global que estava a surgir à força toda.
Para além do tabu, surgiu, então na altura, algo a que o povo já se pode ter esquecido, que era uma coisa muito bonita chamada clusters. Admito que me pareceu mais uma marca de bolachas e até pensei que seria esse o salto que a fábrica Nacional pudesse dar para competir com a Cuetara e com a Kraft (da Oreo). Mas não. Clusters eram apenas e tão-só as áreas estratégicas nas quais valia a pena investir, se quisessemos sonhar, sequer, em andar lá fora à turra e à massa com os ciganos do Mundo.
E quando digo que Porter era iluminado, é porque era mesmo. O homem tem um MBA e um doutoramento em economia empresarial pela Universidade de Harvard, onde é professor, embora tivesse tirado a licenciatura em Princeton, mas em engenharia mecânica e aeroespacial. Não é, propriamente, um tipo saído das Novas Oportunidades. No entanto, as suas conclusões pareceram-me um bocadinho curso técnico-pofissional... tirado à noite. Então veio o homem de tão longe, estudou tanto o nosso país, levou uma parte dos nossos (escassos) recursos financeiros para dizer o que o país inteiro sabia? Bom, podem dizer que foi uma espécie de ovo de colombo da economia nacional, mas mesmo assim é fraquinho. Imaginem que Porter concluiu que, um dos nossos clusters, era o mar. Quem haveria de dizer. Até os habitantes do Quirguistão devem saber isso, já que não o têm.
Mas vamos ao que interessa, que o lençol já vai longo.
Pois outro dos clusters que Porter assinalou foi o vinho. No entanto, parece-me que ninguém com responsabilidade no assunto leu o relatório do homem. Porque, qual não é o meu espanto, quando na minha ronda internacional, deparo-me com esta pérola. A verdade no vinho, meus caros.
Lá longe, nessa pobre e sem expectativas de crescimento localidade chamada Hong Kong, esperam e desesperam por vinho português. Mas não é um vinho qualquer. Pelos vistos, zurrapa já mandamos nós para lá. Por isso é que as nossas quotas de mercado (180.000 litros por ano), quando comparadas com as da França (7.560.000) e com as da Austrália (6.660.000), tornam-se como as figuras dos políticos a queixarem-se da perda de poder compra: patéticas.
Austrália? Por amor de Deus! Quer dizer, então agora vamos passar a ser grandes exportadores de material de surf? É isso? Cada macaco no seu galho, companheiros.
Tudo isto porquê? Bom, se os pedintes de Hong Kong reclamam o melhor das nossas uvas, é sinal que na relação de negócio entre Porter e Portugal, só um ficou a lucrar. E quem contou as notas por último foi ele e não nós. Ficamos contentes com a enorme revelação económica que fez, mas como já todos sabíamos, pelos vistos, deixou-se estar como estava.
Até compreendo que os portugueses queiram ficar com o melhor que a terra nos dá e mandar os restos lá para. O Mateus Rosé até pode ser, ainda, um sucesso de vendas (conhecem lá os bifes outra coisa), mas a globalização traz, também, gostos mais refinados.
Portanto, rapaziada do Douro, de Palmela, do Dão, do Ribatejo e do Alentejo, que sei que frequentam (e muito) este blogue, apanhem o próximo avião para Hong Kong e tornem-se ricos. É que quanto mais pomada vocês colocarem à mesa dos chineses, mais hipótese temos deles nos comprarem títulos da dívida pública. Qualquer dia, só mesmo bem atascados é que alguém o faz.