Deolindando pelo país
É muito fácil caricaturar o nosso país. O raio da terra e das suas gentes põe-se mesmo a jeito. Mesmo correndo o perigo de pisar o periogoso e minado terreno das generalizações, há sempre um ou outro aspecto no qual nos revemos enquanto povo.
Lembro-me sempre de como somos enquanto adeptos do futebol, por exemplo. Ou nos sentimos capazes de conquistar o Mundial, independentemente de sabermos ou não se nos qualificamos para a fase final, ou caímos na mais absoluta depressão por pensarmos que não vamos a lado nenhum, quando até empatamos em casa com potências do futebol mundial... tipo a Albânia (mas sempre com a profunda convicção que somos realmente extraordinários).
Correu por aí a ideia que o novo trabalho do grupo, "Parva Que Sou", transformou-se numa espécie de hino de uma geração, supostamente de grandes qualificações literárias, que não consegue entrar no mercado de trabalho. Não tem perspectivas, a não ser continuar a morar em casa dos pais e ir evoluindo na carreira académica até ao máximo permitido (que pode nunca acabar, havendo dinheiro para as pós-graduações). Para espanto de alguns, passo esta música em frente. Mas volto atrás no tempo para lembrar uma outra que serviu de bandeira do grupo no ano passado, chamado "Movimento Perpétuo Associativo". Estão recordados da letra? Agora sim por mil e uma razões, mas logo de seguida agora não por outra quantidade de argumentos esquizofrénicos.
O país anda pelos cabelos com a (des)governação socialista e com o comando técnico socrático. Uma grande maioria da população parece quer vê-lo(s) pelas costas quanto mais não seja pelo simples facto de estar a chegar a hora da rotatividade partidária, da qual já aqui se falou em tempos. Num período de alguma agitação social (greves nos transportes públicos quase todos os dias da últimas duas semanas) de pedidos de demissão de ministros, o povo pensa: agora sim, damos a volta a isto; agora sim, há pernas para andar; agora sim, sentimos um optimismo... E eis que um partido político lança o mote para fazer cair o Governo. O país fica atónito. Moção de censura? Grita-se pelos corredores da Assembleia da República IRRESPONSABILIDADE POLÍTICA. O povo vai lamuriar-se para os fóruns das rádios e das televisões: agora não, que os mercados financeiros não querem; agora não, que ainda há pouco viemos de eleições; agora não, que vai ser expulso um gajo do ídolos e a malta quer mesmo ver!
Os Deolinda podem ficar na história, sim, mas não com hinos de gerações. É com mais um retrato caricaturado de uma sociedade que passa a vida a oscilar entre o desmesurado optimismo do agora sim, vamos em frente e ninguém nos vai parar; agora sim, há fé neste querer e o pessimismo descontextualizado do agora não, que me dói a barriga; agora não, dizem que vai chover; agora não, que joga o Benfica e a malta tem mais que fazer!
E vai-se andando...