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31 da Sarrafada

31 da Sarrafada

23
Dez10

Liga Europa: Elas não matam, mas moem

Pedro Figueiredo

 

 

 

O Banco Comercial Português (BCP) anda numa tal maré de azar, que duvido que qualquer um dos membros do Conselho de Administração jogue, sequer, um bingo em família a feijões. Desde a saída do histórico fundador Jardim Gonçalves que nos corredores da sede do maior banco privado português o mais ouvido lamento deva ser: «Ai a nossa vida a andar para trás». E não há dúvida nenhuma que uma vez engatada a marcha-atrás, para meter a primeira de novo tem sido um caso sério. É caso para dizer que o BCP tem dado dois passos atrás, para poder dar um para a frente, ainda que tímido. Como o país, no fundo.

 

Deixemos a costela James Bondiana de Carlos Santos Ferreira para o fim e comecemos por ordem cronológica, se é que não me irá falhar algum episódio pelo caminho.

 

A saída de Jardim Gonçalves e a sua substituição por Paulo Teixeira Pinto, dupla que se viria a incompatibilizar e que ditaria a saída do segundo, foi apenas o abrir da porta aos mexericos que passaram a alimentar gulosamente páginas de jornais e precioso tempo de antena, que o banco não viu propriamente como publicidade gratuita. Era o início de um conflito interno que viria a desgastar a imagem da maior instituição bancária nacional, ao ponto de virem à praça pública, no que me pareceu na altura como uma fuga revanchista de informação, as verbas pornograficamente astronómicas envolvidas nas indemnizações a pagar a cada um dos CEO's e CFO's e outros CO's que agora não me ocorrem, inclusive a Filipe Pinhal, que esteve escassos meses na presidência do banco, até enstourar na imprensa o escândalo do BCP ter usado umas sociedades off-shore para comprar acções do próprio BCP e assim influenciar artificialmente o seu preço no mercado. Picasso teria considerado, sem dúvida, que este fora o período negro do BCP.

 

Mas se a coisa começou a ficar preta, as várias tentativas de recuperar têm sido desastrosas. A entrada em cena de Carlos Santos Ferreira na presidência do BCP foi esmagadora: 98% dos votos dos accionistas, derrotando Miguel Cadilhe. Merece, desde logo, o meu reconhecimento já que trabalhou directamente para António Champalimaud (sete anos) na seguradora Mundial, mas ao trazer Armando Vara da Caixa Geral de Depósitos desgraçou-se. Não sou eu que o digo. Fernando Ulrich, do BPI, ainda hoje o culpa disso mesmo. Foi, na altura, uma decisão que causou alguns dissabores ao novo comandante do porta-aviões financeiro, mas que o próprio tratou de defender com unhas e dentes. Correu-lhe mal. Havia uma Face Oculta do antigo ministro da Juventude e do Desporto que Santos Ferreira desconhecia e que voltou a manchar a imagem do banco. Costuma dizer-se que enquanto vai e vem o pau, folgam as costas, mas duvido seriamente que estas viagens da madeira castigadora sejam suficientes para o departamente de comunicação do BCP folgar.

 

São umas atrás das outras. Como se não bastasse, apareceu na semana passada a WikiLeaks a dar conta de uma mensagem do Embaixador dos EUA em Lisboa, a dar conta que o presidente do BCP se disponibilizou para espiar o Irão, caso o banco abrisse negócio naquele país. Santos Ferreira terá amaldiçoado a hora de ter recomeçado a ler John Le Carré. É claro que em entrevista à TVI, classificou tudo como uma tonteria completa. Pelo que me dá a perceber, o presidente do BCP acabou por chamar tonto ao senhor embaixador, já que a WikiLeaks limitou-se a transcrever o que vinha no telegrama. Não coloco em causa a seriedade do presidente do BCP. Há até quem o conheça melhor do que eu e lhe reconheça uma autoridade moral que não renego, mas então não era tonto que deveria ter chamado ao embaixador norte-americano em Lisboa e sim mentiroso.

 

Como não podia deixar de ser, o próprio Santos Ferreira acabou por admitir que tais notícias eram prejudiciais para si e para o banco. What else?! Mais uma tentativa falhada de sair do período negro, que parece não ter fim. É que elas não matam, mas moem. De certeza.

 

 

P.S. Gostava, sinceramente, de ter ouvido o telefonema que Santos Ferreira fez ao Embaixador do Irão depois disto de tudo ter vindo a público. E, infelizmente, não vi nenhum órgão de informação a tentar obter um comentário do diplomata, o que foi pena. É nestas alturas que fica sempre bem uma oportuna sacudidela do capote tipo: «Tentámos obter uma reacção do senhor Rasool Mohajer, que não quis prestar declarações sobre o assunto».

 

 

Imagem: "Memories of a WarAttributionNoncommercial Alguns Direitos Reservados por S n o R k e l

07
Jun10

A vitimização do senhor Gonçalves

31 da Sarrafada

Jardim Gonçalves conversa com o Expresso

 

Se no final desta entrevista não ficarem com uma lagrimita ao canto do olho, qual Bonga, é porque são uns brutos insensíveis.

 

Shame on you Contâncio, shame on you senhor da CMVM cujo nome me escapa de momento e não me apetece ir procurar ao Google.

 

Shame on you país ingrato!

 

(Gosto particularmente do argumento que diz que as elites têm de ser tão bem pagas como as dos outros países. As bases não, essas podem ganhar como os Turcos ou os Romenos, mas as elites não podem fazer mal figura, onde é que já se viu?)

 

 

 

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