|| O princípio do fim
Faz hoje 50 anos, ainda não era nascido, que se deram os acontecimentos que levariam a que 14 anos depois caíssem de “pára-quedas” na minha turma na então recém inaugurada escola secundária da Bela Vista em Setúbal, o último grito ao nível das escolas, ainda sem o gueto e sem guetos dentro do gueto como paisagem, um seres vestidos de modo estranho, sempre de camisa e sandálias de sola de pneu de camião, fizesse chuva ou fizesse sol, que tratavam as raparigas por garina e os rapazes por madiê, não sabiam onde parava a família desde que tinham dado à costa em Lisboa, mas moravam num hotel apesar de terem menos dinheiro que eu, não gostavam do Duo Ouro Negro porque era música para enganar europeu e em contrapartida ouviam Osibisa, Miriam Makeba, Fela Kuti, e Jorge Mendes & Brasil 66, umas coisas muuuuuitos boas que me deram a conhecer e das quais nunca mais me esqueci, numas festas que organizavam aos sábados à tarde, farras de seu nome, e para as quais me convidavam. A estrela que “traziam cozida” na banda do casaco dizia “Retornado” mas na realidade eram refugiados porque ninguém retorna a uma terra que não o viu nascer, e vestiam assim porque era o que tinham em cima do pelo no dia da partida. Ainda hoje somos amigos.
(Em stereo)
(Na imagem mapa do império colonial português igual ao que havia na parede da minha sala de aulas na escola primária)