Aura Miguel lava mais branco
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Sempre ouvi falar de Aura Miguel como a nossa especialista em Papas.
Em Portugal é hábito termos apenas um especialista em cada área - espécie de herança freudiana do Estado Novo? Alguém chamado a perorar acerca de um tema e que aparece invariavelmente em todo o lado.
Antímo de Azevedo sabe de meteorologia, aquele senhor anafado que é pai do satélite português, sabe de coisas espaciais, o Rui Santos sabe de futebol e de permanentes, o Nuno Rogeiro sabe de mísseis e o Pedro Strecht sabe de putos chonés.
A Aura tem esse papel em relação aos Santos Padres. O título de "única jornalista portuguesa com acreditação permanente no Vaticano" persegue-a. Mesmo que quisesse mudar de ares e passar a ser correspondente em Port Moresby ou em Cabul, não a deixavam. Dá imenso jeito ter sempre à mão uma pessoa que é "tu cá, tu lá" com os Papas.
Há ainda outra razão para a existência de Aura Miguel. A cada drama envolvendo a Igreja ou o Vaticano, ela é chamada para "dar um jeitinho" e compor a coisa, com a credibilidade criada por anos de presença constante e próxima.
Nesta altura em que a crise atinge com força a liderança dos católicos, o livro de Aura dá um jeitão para retocar a fraca imagem de Ratzinger. O senhor não tem o aspecto simpático ou bonacheirão de JP2 e levou com esta chatice dos abusos sexuais em cima. Por isso, um livro positivo, repleto das generalidades do costume, dá jeito.
É por isso que a Aura continua a ser a "única jornalista portuguesa com acreditação permanente no Vaticano". Não deve haver muita gente disposta a passar o tempo a dar imagens positivas de uma instituíção que dispara tiros para o pézinho, uns atrás dos outros. Só por isso, ela merece um lugarzinho do céu.