No meu bairro as pessoas também são mortas a fugir, devagarinho mas são.

A fugir ao fim do mês, a fugir às prestações da casa, da água e da luz, a fugir à conta da mercearia, a fugir da família para ir para o trabalho e a fugir do trabalho para ir para a família, a fugir de ter personalidade própria para não ir para o desemprego. E a fugir do PEC, agora vão morrer mais uns quantos.

No meu bairro as pessoas morrem a fugir e são enterradas vivas sem funerais com honras de comunicação social nem aberturas de telejornais nem bandas sonoras xungas pseudo revolucionárias.

(Imagem de autor desconhecido)