O Twitter, os políticos e a malta do segundo balcão
Na mesma semana em que dois políticos, Ascenso Simões (@ascensosimoes) e António Nogueira Leite (@anleite) largam o twitter por deixarem de ter paciência para a confusão, uma vez mais se nota que o Twitter está de saúde e recomenda-se, não obstante (na minha opinião) ter ficado bastante mais pobre com a saída de ambos.
Na noite em que Paulo Rangel anuncia que se vai candidatar à liderança do PSD - e isso começa exactamente ao minuto 0 + 1 segundo em que começa a falar - o Twitter ferve com comentários de todos os lados. Isto não é nada de especial, aliás. O Twitter ferve sempre e ferve em cima do acontecimento. Ferve quando acontece alguma coisa, ferve quando há debates, ferve nas eleições, ferve nas tricas, nas calhandrices e nas coisas sérias. Ferve, por vezes, em lume mais alto do que as pessoas gostariam, mas isso é uma característica normal das relações através da internet. Evidentemente que há muita gente que ainda se aflige, se ofende e se aborrece mas, para quem anda por aqui há uns anos, nem é sequer um local de flames assim muito grandes, comparadas com as dos anos de IRC's, usenets e quejandos.
[Tenho para mim que este tipo de comunicação mais exagerada e exaltada, ofensiva até, não é, de todo, decorrente daquela mania que as pessoas têm de culpar as relações virtuais, o distanciamento e o facto de as pessoas se esconderem em anonimatos e o camandro; tudo isso não passa de mito urbano; na realidade, o que acontece, em grande parte das vezes, é exactamente o contrário: a informalidade deste tipo de conversas e discussões leva a que pessoas que não se conhecem em carne e osso (recuso-me a usar os termos real e virtual dado que, para mim, a net nesse aspecto é apenas mais uma ferramenta de comunicação, como o telefone) se tratem como se estivessem numa mesa, a seguir ao almoço, quando já voam os pratos e os copos: quem nunca teve uma bela discussão de partir a loiça toda num jantar de Natal ou Páscoa ou casamento do primo, com 20 membros da família chegada, que levante a mão, faxavor...exacto. É isso mesmo. O problema na net é que depois não há a parte da gargalhada no dia seguinte, quando a rapaziada se começa a lembrar da barulheira da véspera. Ou, se calhar, até há: quando as pessoas percebem que não passa disso e não se levam demasiado a sério e não amuam com as ofensas. Mas tergiverso; voltando ao assunto:]
As reacções - imediatas, a quente, na palhaçada ou sérias - às declarações de Rangel, deixaram-me, uma vez mais, a pensar que não sei como não há analistas sérios, dentro dos partidos, a LER o twitter com olhos de ver. A analisar o que é dito. A ouvir a opinião de pessoas comuns, conhecidas ou não, políticos, jornalistas, engenheiros, doutores, estudantes ou donas de casa. Porque 1. ali se debitam opiniões muito honestas, dada a informalidade do meio e 2. porque aquelas opiniões são um apanhado da população se calhar bem mais abrangente que as perguntas telefónicas estúpidas das sondagens. Se alguém se preocupasse em saber realmente o que se passa, não em termos de informação, desta vez, mas de opinião pública, então o Twitter seria o local ideal para se analisar seriamente o que pensam as pessoas sobre (quase) todos os assuntos.
Nomeadamente e no caso concreto que, provavelmente, Paulo Rangel deveria imediatamente alterar o discurso de futuro eventual estadista ou então nem sequer tirar a máquina de barbear da mala.
Catarina Campos (continuo sem entrar no meu user)