Liga Europa: Vão sonhando, pá!
Tudo começou aqui...
Bom, na verdade não foi bem aqui, já que o vídeo original do sem-abrigo norte-americano com a voz que encantou o Mundo já se deve ter perdido pelo TuTubo*.
Vi-o no dia em que a SIC Notícias passou o pequeno filme de cerca de dois minutos e a contabilidade foi verdadeiramente assombrosa. Se não repare-se: quando, à hora do almoço, vi pela primeira vez a notícia, a informação era que já tinha ultrapassado as 3 milhões de visualizações. Fui à Internet pouco depois e vi que já ia nas 3,5 milhões. No trabalho, ao final da tarde, mostrei a uns colegas e o contador já marcava 5,3 milhões. Ao final da noite, já em casa outra vez, voltei a ver e já ia nos 7,1 milhões. É esta a velocidade a que corre a informação nos dias de hoje. À conta disso, tal como o próprio Ted Williams desejou, choveram propostas de trabalho e, da noite para o dia, o homem deixou de ser sem-abrigo para passar a ser uma estrela, conhecido não só no seu país como no resto do Mundo.
Não consigo imaginar o mesmo a acontecer em Portugal. Aliás, provavelmente em mais lado nenhum aconteceria um episódio destes. Só mesmo nos Estados Unidos ou não fosse aquilo a Terra das Oportunidades. E dos sonhos. Há duas semanas, uma das personagens da política norte-americana a ser entrevistada no 60 Minutes foi o republicano John Boehner, o novo presidente da Câmara dos Representantes.
Basicamente, o homem que, agora, tem o poder de baralhar as contas de Barack Obama. No entanto, a imagem que passou para o público foi a de um pieguinhas, de lágrima fácil, que se emociona com a mesma rapidez com que Ted Williams passou de pedinte num cruzamento de auto-estrada à voz mais requisitada da América. Diz Boehner, sem lenço para se assoar, que quer continuar a fazer o povo acreditar no milagroso 'American Dream'
Não precisa de se esforçar muito. Ted Williams que o diga. Porém, imagino que se o homem com a preciosa voz se fizesse à estrada e andasse a bater de porta em porta à procura de trabalho, duvido que alguém estivesse minimamente interessado nos seus dotes vocais. Era o preconceito vestido com a nova roupa da moda, chamada crise. Mas os milhões de visualizações no TuTubo e o interesse da imprensa deram um empurrãozinho. Quem não gosta de uma boa história da Gata Borralheira? Então quando há verdadeiro talento envolvido, o argumento passa a ser hollywoodesco.
Este caso podia ser analisado dos mais variados pontos de vista, mas para mim só há um que interessa. Independentemente de se ter passado nos Estados Unidos e correndo o risco de ser considerado um lírico, a lição pode ser válida para todos, salvaguardando as respectivas dimensões: é preciso não deixar nunca de sonhar. Ou como diria JM Barrie na obra do Peter Pan, BASTA ACREDITAR.
Imagem: "Peter Pan" Alguns Direitos Reservados por toddwshaffer