06
Jan11
Liga Europa: Quem disse que (ainda) não há alternativa?
Pedro Figueiredo
É fácil sentirmo-nos perdidos nos tempos que correm. Por muitas certezas - e nunca podem ser assim tantas - que possamos ter em relação ao que queremos da vida, há sempre o factor aleatório a entrar na equação, no qual devemos incluir tudo aquilo cujo desfecho não está nas nossas mãos, apesar de nos afectar directa ou indirectamente.
Há um sentimento de injustiça a invadir as pessoas. Digo eu, pela quantidade de notícias que deviam fazer corar qualquer um com os níveis mínimos de dignidade e moral. Há quem as considere, simplesmente, estrume onde cresce a flor do humor, bem aproveitadas para a denuncia ser servida em moldes caricaturais. Sempre a houve e isso é saudável. Mas a verdade é que a real dimensão dessas notícias tem custos e a factura vai sempre parar às mesmas moradas.
Não vou aqui descrever os casos porque, para além da lista já ir demasiado extensa (e pelos vistos não vai parar tão cedo), o propósito deste texto não é esse. Portanto, conversa da treta de lado e vamos ao tópico revolucionário do dia. Curiosamente, apanhado de um pequeno apontamento do habitual espaço semanal de Nuno Rogeiro na revista Sábado, denominado Relatório Minoritário.
O título é giro e vai dar jeito mais à frente: "Despertares violentos"
Rogeiro escreve que a grande questão que tem agitado os "cientistas sociais" nos últimos dois anos é uma pergunta simples, mas com resposta complexa: porque é que, face à crise global do capitalismo (ou do capitalismo global) - adorei o trocadilho! - não houve ainda revoluções nem revoltas internacionais em grande escala e consequências?
E passo a transcrever as conclusões pela delícia da terminologia:
"Pode dizer-se que o falhanço - às vezes sangrento - do socialismo (real ou imaginário) impede que este se erga como alternativa. Pode dizer-se que a existência de sistemas eleitorais livres, e tribunais independentes, e imprensa indiscreta e poderosa, retira motivos e apetites aos candidatos a revolucionários. Pode dizer-se que a colectivização das lideranças, ou a sua fragilidade, impede que haja fúrias concentradas num chefe absoluto, senhor dos triunfos e das desgraças. Pode dizer-se que, de séculos de barbárie, os povos se cansaram da morte: mesmo a Al-Qaeda, dez anos depois do 11 de Setembro, é uma marca em crise. Mas há atrocidades (e reguadas) que não se prevêem, nem anunciam"
No fundo, por mais descontente que possa andar o povo, a verdade é que parece não haver alternativa ao status quo em vigor ou ao sistema de pelo qual as sociedades modernas se regem. Como disse Churchill, a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos.
Pegando no título escolhido por Nuno Rogeiro e na parte final do seu texto, sabe-se lá quando haverá um despertar violento? Há reguadas que não se prevêem e não é preciso recuar muito no tempo para se perceber que a régua já deu sinais de vida.
Confesso-me totalmente contra qualquer tipo de violência. Detesto armas e acho que a força só faz perder a razão. Mas nem todos pensam como eu e acredito que haja muito boa gente arrependida do romantismo de Abril se ter manifestado com cravos nas pontas das G-3.
Yo no credo en brujas, pero que las hay, las hay!
Imagem: "Gun-Flower" Alguns Direitos Reservados por Robert Couse-Baker