Liga Europa: Afinal, este país é para velhos
Bem sei: título fraquinho. A verdade é que o trocadilho cai que nem ginjas no tema da Liga Europa de hoje. Vai ser fácil de perceber, vão ver.
Admito que estou dividido. À primeira vista, numa análise mais superficial e imediata, confesso que fiquei (mais uma vez) desapontado com a medida governamental que tive oportunidade de ler num site exclusivamente dedicado a apresentar aos cidadãos seniores europeus oportunidades de gozarem a sua velhice na plenitude das suas capacidades financeiras, sem se preocuparem com aquilo que os impostos podem levar das reformas para as quais trabalharam durante uma vida inteira. Estes é que são do bom tempo, porque quando chegar à minha altura, e pelo andar da carruagem, terei que trabalhar até que a espondilose me doa. Isto se não morrer antes, o que para o Estado deve ser um alívio:"olha, menos um a delapidar a caixa de aposentações" (se nessa altura houver). Já faltou mais, se é que este pensamento já não passou pela cabeça de alguém...
A notícia, se ainda não foram cuscar o link, apresenta Portugal como um dos paraísos fiscais para a terceira idade mundial dados os benefícios que o Governo da República Portuguesa (não sei se sabem, mas é assim que o nosso país é denominado na Constituição, Portugal é para os amigos) estão a dar aos reformados estrangeiros que queiram fixar residência neste cantinho soalheiro e com baixo custo de vida.
Diz o artigo que nos primeiros 10 anos há o bónus de isenção de imposto, tentando assim cativar os reformados a trocar o cinzento e chuvoso Reino Unido ou a fria e nevada Alemanha por Portugal. Sim, porque são estes reformados e não aos da Albânia ou de Malta a quem o governo deve estar a piscar o olho e a flectir o indicador, como se de clientes se tratassem.
Como expliquei de início, primeiro senti-me desiludido. Então fazem isto aos estrangeiros... e os portugueses? E os que contribuíram a vida toda para que o país tivesse o que tem hoje? Imagino que esta medida seja uma espécie de dívida de gratidão para com os cidadãos das economias dominadoras europeias pelos seus precosos fundos comunitários, que inundaram este país de alcatrão e de centros comerciais, sob a batuta do actual Presidente da República. Mas como dizem os Homens da Luta: E o povo, pá? Não dá para estender a medida aos nossos reformados? Não têm direito? Ou está-se, subrepticiamente, a dizer-se-lhes para procurarem abrigo fora de portas?
Esta foi a minha análise a quente, como a nossa meteorologia. Depois veio a brisa nórdica. Calma. Isto até tem alguma lógica. Acena-se aos cotas ricos endinheirados com uma isençãozita de impostos, eles caem no ALLgarve (ainda mais) e à volta dos campos de golfe por esse país fora como moscas para de seguida, segundo os ensinamentos do Tio Sam, desatarem numa corrida desenfreada de consumismo no país, aumentando assim o PIB:
fonte PorData
Parece uma equação difícil de errar no resultado, verdade?
Se os objectivos se concretizarem, pode ser que nessa leva de imigrantes seniores venha alguém, ainda, com vontade de dar uma perninha na governação.
E à boa maneira da dialética socrática (do verdadeiro, o grego!), depois da tese e da antítese, vem a síntese. Ficamos num ponto intermédio, mas sem equilíbrio. É uma ideia com bons fundamentos e a finalidade até pode trazer benefícios, mas em última análise só revela mais do mesmo: uma perfeita desconsideração pela população, que tem todo o direito de se sentir discriminada com estas medidas. Por muito nobre que seja construir um estádio na Palestina, de que vale a nobreza quando se aumenta a carga fiscal sobre os medicamentos num país onde existem doentes que os vão deixar de poder comprar? Faz-me lembrar as praias de certos resorts de luxo espalhados por esse mundo fora: só para turistas. Proibida a entrada a autóctones.
Em resumo: este país, afinal, é para velhos, mas não para os da casa!
Já agora, este post não dispensa a leitura da notícia original (em inglês)
Imagem: David Dennis em Creative Commons