A partir a comunicação de Cavaco Silva
Onde se debate e desconstrói a comunicação do PR à nação:
"1. Durante a campanha eleitoral foram produzidas dezenas de declarações e notícias sobre escutas, ligando-as ao nome do Presidente da República e, no entanto, não existe em nenhuma declaração ou escrito do Presidente qualquer referência a escutas ou a algo com significado semelhante.
Desafio qualquer um a verificar o que acabo de dizer.
E tudo isto sendo sabido que a Presidência da República é um órgão unipessoal e que só o Presidente da República fala em nome dele ou então os seus chefes da Casa Civil ou da Casa Militar."
O problema começa logo aqui: Andou Fernando Lima, este tempo todo, a falar em nome do Presidente da República, sem a sua autorização? E ainda está no Palácio de Belém? E já agora a fazer exactamente o quê?
"2. Porquê toda aquela manipulação?
Transmito-vos, a título excepcional, porque as circunstâncias o exigem, a minha interpretação dos factos.
Outros poderão pensar de forma diferente. Mas os portugueses têm o direito de saber o que pensou e continua a pensar o Presidente da República.
Durante o mês de Agosto, na minha casa no Algarve, quando dedicava boa parte do meu tempo à análise dos diplomas que tinha levado comigo para efeitos de promulgação, fui surpreendido com declarações de destacadas personalidades do partido do Governo exigindo ao Presidente da República que interrompesse as férias e viesse falar sobre a participação de membros da sua casa civil na elaboração do programa do PSD (o que, de acordo com a informação que me foi prestada, era mentira).
E não tenho conhecimento de que no tempo dos presidentes que me antecederam no cargo, os membros das respectivas casas civis tenham sido limitados na sua liberdade cívica, incluindo contactos com os partidos a que pertenciam.
Considerei graves aquelas declarações, um tipo de ultimato dirigido ao Presidente da República."
Mais um problema aqui: Os Portugueses não esperam do unipessoal órgão institucional uma interpretação pessoal. Os Portugueses esperavam uma comunicação institucional, com factos e com respostas. As mesmas respostas e esclarecimentos que foram prometidos pelo Presidente da República.
Cavaco Silva continua, visivelmente, muito incomodado por ter que trabalhar em Agosto, como uma imensa maioria de todos os Portugueses. Unipessoalmente não me lembro de quaisquer exigências do PS para que Cavaco Silva interrompesse as suas férias e viesse falar sobre o assunto. Mais ainda, Cavaco fez as declarações que fez pois, tal como afirma, considerou grave as declarações. De notar que esta notícia foi publicada pelo jornal Semanário, baseando a sua informação na que estava no site do PSD na altura.
"3. A leitura pessoal que fiz dessas declarações foi a seguinte (normalmente não revelo a leitura pessoal que faço de declarações de políticos, mas, nas presentes circunstâncias, sou forçado a abrir uma excepção).
Pretendia-se, quanto a mim, alcançar dois objectivos com aquelas declarações:
Primeiro: Puxar o Presidente para a luta político-partidária, encostando-o ao PSD, apesar de todos saberem que eu, pela minha maneira de ser, sou particularmente rigoroso na isenção em relação a todas as forças partidárias.
Segundo: Desviar as atenções do debate eleitoral das questões que realmente preocupavam os cidadãos.
Foi esta a minha leitura e, nesse sentido, produzi uma declaração durante uma visita à aldeia de Querença, no concelho de Loulé, no dia 28 de Agosto."
Forçado? Forçado por quem? Quem está por detrás dos panos a apontar a pistola metafórica ao PR? E depois lá vem a unipessoalidade: eu aqui sou vítima mas a mim ninguém me força a nada, nem a ser vítima. Mas pelo sim pelo não deixa lá deitar mais achas para a fogueira.
"4. Muito do que depois foi dito ou escrito envolvendo o meu nome interpretei-o como visando consolidar aqueles dois objectivos.
Incluindo as interrogações que qualquer cidadão pode fazer sobre como é que aqueles políticos sabiam dos passos dados por membros da Casa Civil da Presidência da República.
Incluindo mesmo as interrogações atribuídas a um membro da minha Casa Civil, de que não tive conhecimento prévio e que tenho algumas dúvidas quanto aos termos exactos em que possam ter sido produzidas.
Mas onde está o crime de alguém, a título pessoal, se interrogar sobre a razão das declarações políticas de outrem?
Repito, para mim, pessoalmente, tudo não passava de tentativas de consolidar os dois objectivos já referidos: colar o Presidente ao PSD e desviar as atenções."
Alto e pára o baile! Está o PR a dizer que o mail que o DN publicou é forjado? O encontro na Av. de Roma nunca aconteceu entre Fernando Lima e Luciano Alvarez?
Mas o que realmente faz parar a banda filarmónica é quando o PR pergunta onde está o crime. O crime, e falo unipessoalmente, está em alguém usar a sua posição de membro da Casa Civil para atrair um jornalista e "encomendar" um artigo em um jornal. Por mim, Fernando Lima poder-se-ia ter interrogado sobre o que quisesse, até podia ter tatuado um ponto de interrogação na nádega direita. Mas pedir a um jornalista para publicar uma história baseada nas suas interrogações unipessoais já me parece abuso de poder entre outras coisas. Isso não é um crime?
"5. E a mesma leitura fiz da publicação num jornal diário de um e-mail, velho de 17 meses, trocado entre jornalistas de um outro diário, sobre um assessor do gabinete do Primeiro-Ministro que esteve presente durante a visita que efectuei à Madeira, em Abril de 2008.
Desconhecia totalmente a existência e o conteúdo do referido e-mail e, pessoalmente, tenho sérias dúvidas quanto à veracidade das afirmações nele contidas.
Não conheço o assessor do Primeiro-Ministro nele referido, não sei com quem falou, não sei o que viu ou ouviu durante a minha visita à Madeira e se disso fez ou não relatos a alguém.
Sobre mim próprio teria pouco a relatar que não fosse de todos conhecido. E por isso não atribuí qualquer importância à sua presença quando soube que tinha acompanhado a minha visita à Madeira."
Mais uma vez Cavaco Silva chama mentiroso a alguém, unipessoalmente claro. Não conhece, não tem nada a esconder, não conhecia o mail mas acha que é mentira. Não ligou nenhuma e agora é o que se vê. E admitir que errou não? Nada disso! Isso fica para o próximo tempo de antena.
"6. A primeira interrogação que fiz a mim próprio quando tive conhecimento da publicação do e-mail foi a seguinte: “porque é que é publicado agora, a uma semana do acto eleitoral, quando já passaram 17 meses”?
Liguei imediatamente a publicação do e-mail aos objectivos visados pelas declarações produzidas em meados de Agosto.
E, pessoalmente, confesso que não consigo ver bem onde está o crime de um cidadão, mesmo que seja membro do staff da casa civil do Presidente, ter sentimentos de desconfiança ou de outra natureza em relação a atitudes de outras pessoas.
7. Mas o e-mail publicado deixava a dúvida na opinião pública sobre se teria sido violada uma regra básica que vigora na Presidência da República: ninguém está autorizado a falar em nome do Presidente da República, a não ser os seus chefes da Casa Civil e da Casa Militar. E embora me tenha sido garantido que tal não aconteceu, eu não podia deixar que a dúvida permanecesse.
Foi por isso, e só por isso, que procedi a alterações na minha Casa Civil."
Novamente Cavaco Silva diz que não vê onde está o crime até porque o visado é uma pessoa que merece toda a confiança do Presidente da República tornando esta afirmação totalmente independente. Não vê onde está o crime mas retira-lhe as funções. Retira-lhe as funções mas deixa-o ficar no Palácio de Belém. Isto parece fazer todo o sentido para Cavaco Silva. Para mim, unipessoalmente não faz e o Chefe da Minha Casa Militar no Máfia Wars diz que acha isto tudo muito estranho. O Chefe da Minha Casa Civil está neste momento numa orgia no YoVile com membros da Comunicação Social do Sorority Ville e não está disponível para comentários unipessoais.
"8. A segunda interrogação que a publicação do referido e-mail me suscitou foi a seguinte: “será possível alguém do exterior entrar no meu computador e conhecer os meus e-mails? Estará a informação confidencial contida nos computadores da Presidência da República suficientemente protegida?”
Foi para esclarecer esta questão que hoje ouvi várias entidades com responsabilidades na área da segurança. Fiquei a saber que existem vulnerabilidades e pedi que se estudasse a forma de as reduzir."
Primeiro uma correcção: no discurso a viva voz Cavaco Silva reforçou aquele "hoje" com um "hoje mesmo".
Aqui estamos perante um caso de total incompetência de alguém, a começar pelo Presidente da República:
- Se a segunda interrogação que fez, aquando da publicação do e-mail no dia 18 de Setembro, foi uma de segurança e de "vulnerabilidade" do sistema informático da Presidência, não existem razões nenhumas para que o Presidente da República não tenha imediatamente convocado os especialistas de segurança informática, para realizarem um levantamento do problema e implementarem uma solução. Um problema tão grave não podia esperar desde dia 18 até ao dia de ontem para ser resolvido.
Não sabemos que reunião foi esta hoje e, como sempre, não existem quaisquer documentos no site da Presidência sobre a mesma. Seguindo a lógica unipessoal do Presidente da República, até nos poderia fazer duvidar que a mesma existiu.
Mas supondo que a mesma existiu não se entendem duas coisas:
- Como é que o o sistema da Presidência tem vulnerabilidades destas?
- Como é que o Presidente da República esperou 12 dias (doze!!!!) para dar os primeiros passos para sanar este problema?
Em qualquer empresa, um director que esperasse 12 dias para investigar uma "vulnerabilidade" do sistema informático teria contas que prestar ao Conselho de Administração. Porque razão o Presidente "de todos os portugueses" não o fez é algo que deveria explicar imediatamente!
"9. Um Presidente da República tem, às vezes, que enfrentar problemas bem difíceis, assistir a graves manipulações, mas tem que ser capaz de resistir, em nome do que considera ser o superior interesse nacional. Mesmo que isso lhe possa causar custos pessoais. Para mim Portugal está primeiro.
O Presidente da República não cede a pressões nem se deixa condicionar, seja por quem for.
Foi por isso que entendi dever manter-me em silêncio durante a campanha eleitoral.
Agora, passada a disputa eleitoral, e porque considero que foram ultrapassados os limites do tolerável e da decência, espero que os portugueses compreendam que fui forçado a fazer algo que não costumo fazer: partilhar convosco, em público, a interpretação que fiz sobre um assunto que inundou a comunicação social durante vários dias sem que alguma vez a ele eu me tenha referido, directa ou indirectamente.
E sabendo todos que a Presidência da República é um órgão unipessoal e que, sobre as suas posições, só o Presidente se pronuncia.
Uma última palavra quero dirigir aos portugueses: podem estar certos de que, por maiores que sejam as dificuldades, estarei aqui para defender os superiores interesses de Portugal."
Frases bonitas. Muito mesmo. Deliciosas e quase poéticas. Mas erradas: Cavaco Silva, com o seu silêncio, prejudicou mais o decorrer da campanha do que se tivesse colocado tudo em pratos limpos no dia 18 ou 19.
No entanto, compreende-se: As declarações de Cavaco Silva, o nosso Presidente da República, esperavam pelo desfecho das eleições legislativas para saber o teor da sua comunicação em relação às escutas.
Seria interessante ter acesso ao computador do Presidente para saber o teor da declaração de hoje, se o PSD tivesse ganho.