Então, agora... numa altura em que o Povo, está a tomar o poder pelas suas mãos, assistimos a um golpe de estado no Bloco de Esquerda?
Então as comadres estão chateadas?
Querem ver que qualquer dia ainda tentam definir ideologicamente o BE?
Se calhar deviam ter-se lembrado antes de terem metido tudo dentro da liquidificadora.
Agora que têm um belo batido de tutti-fruti é que se lembram de andar a tentar apanhar os bocadinhos de bananas?
Imagem: "Burn Baby Burn" Alguns Direitos Reservados por Abstract Gourmet
Personagens como Joe Berardo, que está morto em casa há pelo menos 37 anos sem que o fisco, a vizinhança, ou a comunicação social tenham dado por isso, devem ser estimulados e incentivados a virem a terreiro dizer o que lhes vai na alma como forma de trazer os jovens de volta à política e à contestação.
Falar à geração actual (18/ 20 anos), nascida e criada com a Democracia consolidada, em «“mudar o sistema político”, nem que seja com “um novo género de ditadura» é encher as ruas de jovens, logo no dia seguinte, a levantar as pedras da calçada. Abençoado Berardo!
(Em stereo)
(Imagem)
É muito fácil caricaturar o nosso país. O raio da terra e das suas gentes põe-se mesmo a jeito. Mesmo correndo o perigo de pisar o periogoso e minado terreno das generalizações, há sempre um ou outro aspecto no qual nos revemos enquanto povo.
Lembro-me sempre de como somos enquanto adeptos do futebol, por exemplo. Ou nos sentimos capazes de conquistar o Mundial, independentemente de sabermos ou não se nos qualificamos para a fase final, ou caímos na mais absoluta depressão por pensarmos que não vamos a lado nenhum, quando até empatamos em casa com potências do futebol mundial... tipo a Albânia (mas sempre com a profunda convicção que somos realmente extraordinários).
Correu por aí a ideia que o novo trabalho do grupo, "Parva Que Sou", transformou-se numa espécie de hino de uma geração, supostamente de grandes qualificações literárias, que não consegue entrar no mercado de trabalho. Não tem perspectivas, a não ser continuar a morar em casa dos pais e ir evoluindo na carreira académica até ao máximo permitido (que pode nunca acabar, havendo dinheiro para as pós-graduações). Para espanto de alguns, passo esta música em frente. Mas volto atrás no tempo para lembrar uma outra que serviu de bandeira do grupo no ano passado, chamado "Movimento Perpétuo Associativo". Estão recordados da letra? Agora sim por mil e uma razões, mas logo de seguida agora não por outra quantidade de argumentos esquizofrénicos.
O país anda pelos cabelos com a (des)governação socialista e com o comando técnico socrático. Uma grande maioria da população parece quer vê-lo(s) pelas costas quanto mais não seja pelo simples facto de estar a chegar a hora da rotatividade partidária, da qual já aqui se falou em tempos. Num período de alguma agitação social (greves nos transportes públicos quase todos os dias da últimas duas semanas) de pedidos de demissão de ministros, o povo pensa: agora sim, damos a volta a isto; agora sim, há pernas para andar; agora sim, sentimos um optimismo... E eis que um partido político lança o mote para fazer cair o Governo. O país fica atónito. Moção de censura? Grita-se pelos corredores da Assembleia da República IRRESPONSABILIDADE POLÍTICA. O povo vai lamuriar-se para os fóruns das rádios e das televisões: agora não, que os mercados financeiros não querem; agora não, que ainda há pouco viemos de eleições; agora não, que vai ser expulso um gajo do ídolos e a malta quer mesmo ver!
Os Deolinda podem ficar na história, sim, mas não com hinos de gerações. É com mais um retrato caricaturado de uma sociedade que passa a vida a oscilar entre o desmesurado optimismo do agora sim, vamos em frente e ninguém nos vai parar; agora sim, há fé neste querer e o pessimismo descontextualizado do agora não, que me dói a barriga; agora não, dizem que vai chover; agora não, que joga o Benfica e a malta tem mais que fazer!
E vai-se andando...
A parte, digamos, mais saborosa, é a da criação de uma agência, a "Portugal Music Export". Jobs for the boys como diria o beato.
"Os artistas sonham, o Estado decide e a obra nasce". Faltou dizer “o contribuinte paga”. A vida é bela.
Meanwhile as vozes incómodas dos artistas, os mesmos de sempre, nos sítios do costume, só grandes músicas e a melhor música de todas as estações (e apeadeiros), mais as Deolindas manhosas à procura do “venha a nós o vosso reino” (os bilhetes para a Sombra são mais caros que para o Sol, é por isso que as corridas nocturnas são mais democráticas) ficam macias. Granulação acima de 2000, só para tirar o brilho. Não se morde a quem nos dá de comer, um velho ditado salazarento. A esquerda sempre teve um jeito especial para tratar destes assuntos da kultura.
Pão e circo. Equação perfeita. Não se dera o caso de ir faltando o pão.
(Em stereo)
Apenas 15 dias depois do day-after das presidenciais, começam a puxar para trás os lençóis da cama onde o governo se prepara para o repouso eterno. É certo que, para muitos, o executivo vai deitar-se no leito que preparou para si, mas não deixa de ser curioso perceber que os habituais tarólogos da política já deram o tiro de partida para o (im)paciente voo dos abutres.
Afinal, se o governo está morto, está na hora de se começar a debicar o cadáver. Digo debicar porque há quem considere que ainda não está na hora da refeição. Há que esperar o momento certo e não haver precipitações, até porque pode ser de Belém que venha a certidão de óbito, agora que o segundo mandato parece tudo legitimar.
Uma coisa é certa: o governo pode não ter morrido, mas virou, com toda a certeza, um daqueles sacos de areia em que os boxistas fazem o seu treino, aquilo a que vulgarmente o povo gosta de chamar de 'saco de pancada'. De tal forma, que até há quem, de dentro, aproveite para ajustar contas passadas, escudados pelo legítimo direito à diferença de opinião e liberdade de a expressar.
Agora, é o caminho mais fácil. Aliás, chegou a hora dos fracos sairem de cena de fininho para, na hora do funeral, poderem até alinhar na maledicência ao falecido bem como os oportunistas que, percebendo que terão de colocar na loja o letreiro do 'Volto Já', começam a encher o porquinho mealheiro para o tempo de vacas magras que se avizinham. Há até números que, oportunamente, aparecem nestas alturas libertando apenas comentários do género "Que grande novidade!" A minha dúvida é só esta: esta sondagem reflecte o momento ou um sentimento de leitura mais ampla?
O governo morreu, viva o governo! Porque como dizia a minha avó, atrás de mim virá quem de mim bom fará.
Imagem: "Vulture" Some rights reserved by kahunapulej
Faz hoje 50 anos, ainda não era nascido, que se deram os acontecimentos que levariam a que 14 anos depois caíssem de “pára-quedas” na minha turma na então recém inaugurada escola secundária da Bela Vista em Setúbal, o último grito ao nível das escolas, ainda sem o gueto e sem guetos dentro do gueto como paisagem, um seres vestidos de modo estranho, sempre de camisa e sandálias de sola de pneu de camião, fizesse chuva ou fizesse sol, que tratavam as raparigas por garina e os rapazes por madiê, não sabiam onde parava a família desde que tinham dado à costa em Lisboa, mas moravam num hotel apesar de terem menos dinheiro que eu, não gostavam do Duo Ouro Negro porque era música para enganar europeu e em contrapartida ouviam Osibisa, Miriam Makeba, Fela Kuti, e Jorge Mendes & Brasil 66, umas coisas muuuuuitos boas que me deram a conhecer e das quais nunca mais me esqueci, numas festas que organizavam aos sábados à tarde, farras de seu nome, e para as quais me convidavam. A estrela que “traziam cozida” na banda do casaco dizia “Retornado” mas na realidade eram refugiados porque ninguém retorna a uma terra que não o viu nascer, e vestiam assim porque era o que tinham em cima do pelo no dia da partida. Ainda hoje somos amigos.
(Em stereo)
(Na imagem mapa do império colonial português igual ao que havia na parede da minha sala de aulas na escola primária)
Aviso: este post é uma reciclagem do anterior com um pequeno up-grade!
Sinceramente, não sei se é por causa de uma certa vertigem do fim, mas a verdade é que certos membros do Governo estão a criar práticas muito estranhas para os hábitos da democracia portuguesa. Vamos directamente à novidade.
Então a ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, decidiu, por livre iniciativa ir à Comissão de Ética, Sociedade e Cultura explicar a integração dos teatros S. João e D. Maria II no Opart? A TSF adiantou mesmo que o pedido enviado pela ministra é mesmo uma medida inédita no país. Claro que tinha de ser inédita. Onde já se viu um ministro ir de livre e espontânea vontade prestar esclarecimentos ao parlamento?
Já não bastava os dois directores-gerais na Administração Interna terem pedido a demissão, tinha agora que vir a ministra da Cultura atirar mais lenha para a fogueira em que estão a ser queimados os velhos costumes da casa.
É o que dá convidarem independentes para o executivo.
Corrompem por completo as normais partidárias e furam esquemas que acabam por expor ao ridículo os companheiros de governo. Assim não dá. Aposto que na próximo Conselho de Ministros, Gabriela Canavilhas vai ficar de castigo a um canto da sala e a escrever 100 vezes no seu Magalhães para ser visto no vídeoprojector à frente do restante elenco ministerial (como o Bart Simpson no génerico da série): PROMETO NÃO VOLTAR A TOMAR A INICIATIVA DE IR PRESTAR ESCLARECIMENTOS AO PARLAMENTO. E proibida de usar o copy/paste!
Claro que tamanho sentido de Estado só podia ser aproveitado pela oposição. Como está referido na peça do primeiro link, o PCP aproveitou logo para pedir esclarecimentos em relação à demissão de Jorge Salavisa, precisamente da presidência do conselho de administração do Opart . Está a ver, Gabriela? Dá-se-lhes a mão e a rapaziada quer logo o braço. Que lhe sirva de lição. O sistema funciona de uma determinada maneira há tantos anos por alguma razão é. É que nem lhe valeu os votos contra do PS!
Por isso é que o povo há-de aplicar o respectivo castigo. E se não for por isso, há-de ser por outra razão qualquer. Ou não!
Imagem: "Broken Hope" Alguns Direitos Reservados por janhamlet
Democracia não é sinónimo de liberdade. É só sinónimo de liberdade de escolha. Naquele dia.
No fundo todos somos apenas peões. O norte de África entra em modo-manifestação pela democracia, o ocidente capitalista preocupa-se com o que possa resultar com a democracia resultante e a rapaziada mais lírica preocupa-se com a preocupação do ocidente capitalista, porque nestes países, de gente tão budista zen, não há motivo para que o capitalismo se preocupe.
E ninguém se preocupa se em BurakaNumCudeJudas de África, uma ilha isolada, onde os dez habitantes vieram para a praça manifestar a sua vontade de deitar o chefe ao poço e eleger democraticamente o curandeiro. Sabem porquê?
Porque nessa ilha não há petróleo, nem gás natural, nem nada disso, só bananas (e um poço e duas galinhas que são do chefe).
A parte do ocidente capitalista eu entendo. A parte do lirismo ocidental custa-me sempre a alcançar: agora está o mulherio chanata chanel (a palavra chave aqui sendo “chanata”) a aplaudir as mulheres de roupas ocidentais que aparecem nas manifestações. Daqui a nada, estão a criticar que elas sejam obrigadas a cobrir-se com um pano preto enquanto lhes cosem as ditas. E se for a democracia deles a decidir isso, em que ficamos? Não há motivos para preocupação? Em abstracto, no mundo utópico, não. Mas na realidade, a democracia não é sinónimo de liberdade.
Democracia é a liberdade de uma data de mulheres, vestidas à ocidental e de cabelos ao vento, poderem escolher, democraticamente, andar tapadas até aos pés daqui a uns meses.
E democracia também é, face a isso, nem piarmos depois.
* De alguma maneira, em algum lugar, alguém vai ter que pagar