SCUTs, pontes e democracia a duas velocidades
Discute-se pela cagagésima décima sétima vez - desta é na RTP N mas tanto faz.. - o pagamento/não pagamento das SCUTs. Tábem, a coisa tá preta e isto há que rapar os fundos dos bolsos da malta toda pra sacar os últimos cêntimos! (até eu consigo perceber isso sem as explicações de analistas de política ou economia, sem as opiniões dos colunistas dessas e de outras áreas)
Só há uma pergunta que eu nunca ouvi fazer/responder, e isto já vem desde a inauguração da Ponte Vasco da Gama.
Esmiuçando a questão:
As pontes 25 de Abril e Vasco da Gama são duas, e não há alternativa - bem, o pagode pode sempre usar a ponte de Vila Franca se quiser fugir à portagem.
Já o Puôrto tem não-sei-quantas pontes (mais do que a Capital, isso é certo) e em nenhuma delas se paga portagem.
- Porque é que há atravessadores de pontes de 1ª e atravessadores de pontes de 2ª?
(esta é a pergunta que eu nunca vi feita em nenhum tóque-chôu, por nenhum jornalista, a nenhum político ou (i)rresponsável deste desgraçado país - órfão desde que o paizinho Salazar caiu da cadeira.)
Esta história das SCUTs é outro belo cozinhado dos nossos sucessivos (mas pouco bem-sucedidos a dirigir esta Nau das Tormentas chamada Portugal) políticos.
Primeiro constroem-se auto-estradas em sítios onde o que faz falta é construir estradas decentes e diz-se: não são auto-estradas, são SCUTs e aqui ninguém paga!
Agora que interessa sacar mais umas massitas ao povo, são promovidas a auto-estradas "de verdade" e toca a sacar o pilim ao people.
Posso fazer aqui a minha declaração de voto? Quer-se dizer, eu sei que só vou declarar-me perante umas dúzias de ilustres visitantes/leitores deste conceituado blog; eu sei que sou só uma mais-que-anónima entre os dez milhões de anónimos portugueses; mas não é isso que me vai impedir de fazer a minha declaração de voto, por isso cá vai:
De cada vez que for ao Algarve visitar a Mana Idalete e a mana Lizandra e mais o cunhado Laurentino, mais os quatro sobrinhos e a sobrinha-neta Libelinha - dizia eu, de cada vez que for ao Algarve vou ter que desempochar uns cobres na Via do Infante, ou então apanhar a 125 que toda a gente sabe que é uma estrada bestial, larga à parvalhona, quase sem cruzamentos nem rotundas, muito menos semáforos, e que só atravessa uma meia-dúzia de localidades (a cada 15 quilómetros).
E vou ter que desempochar a massita pra ser uma verdadeira utilizadora-pagadora sem sobrecarregar os restantes portugueses que não têm manas e sobrinhos no Algarve. Tábem, é bonito.
Pois já que eu pago pra tanta coisa de que outros são os utilizadores-não-pagadores (carros, telemóveis, cartões de crédito e mais umas dúzias de etcetras de governantes, assessores, secretários, autarcas e todos os respectivos afins…), não me importo nada de pagar verdadeiros bens de primeira necessidade pràs populações que vivem em zonas onde os ceguinhos dos Senhores Que Decidem puseram o que lhes parecia melhor em vez daquilo de que os cidadãos precisavam mesmo.
Se as pessoas precisam só de uma estradinha decente e os Ilustre Governantes lhe impingem uma auto-estrada-agora-não-paga-nada-depois-logo-se-vê, faz-me lembrar quando o Menino Jesus me dava uma camisola nova quando a velha ainda servia, em vez de um brinquedo que eu gostava tanto de ter.
E disse.