PT que a pariu
A minha maior dificuldade quando andei a tirar a carta de condução era acertar com o virar à esquerda e/ou direita. Ainda hoje, sou daquelas pessoas (espero eu que possa usar o plural) que precisam de meio segundo para pensar esquerda, esta, direita, esta. Atribuo a tal "característica" o facto de também na política nunca ter conseguido perceber muito bem o que é esquerda, o que é direita. Com a vantagem de não me fazer diferença nenhuma, por me ser também indiferente à formação de opinião própria se um governo em funções tem D no PS ou não. Até porque, mais para a esquerda, mais para a direita, mais na faixa do meio com a auto-estrada vazia como tanto gosta o tuga, é mesmo só o D que de 4 em 4 anos acrescentamos ou retiramos à entidade Governo.
Acontece que isto acaba por ter uma consequência negativa: poder baralhar a mente do indivíduo, o que se agrava, na minha perspectiva, quando o indivíduo sou eu e fazem coisas que me baralham porque, lá está, não sei se é a esquerda a ir para a direita, a direita para a esquerda, se eles também não sabem - como eu - e não se decidem, se serão eles que andam baralhados, se está tudo doido, se andam a arranjar cenas para fumar melhores do que eu arranjo.
Para se perceber bem o meu estado de baralhação nada melhor que um suponhamos. Vamos que eu aterro aqui sem saber nada de partidos e nomes e ideologias, só olho para as coisas. Vejo que é um país que privatizou ou vai privatizar as empresas estatais e/ou municipais de combustíveis, água, electricidade, gás; que semi-privatizou estradas e a saúde; que apesar de ter como obrigação constitucional não assegura o ensino pré-escolar, escolar, universitário empurrando parte dos cidadãos para o sector privado ou os cuidados com idosos, crianças em risco, órfãos, etc, deixando essas tarefas às IPSS e instituições de solidariedade social. Parece-me, assim visto de fora, um Estado bastante liberal e algo alheado das suas obrigações sociais, que ao longo de anos aceitou como natural privatizar quase todos os bens e serviços essenciais.
MAS! Parece que vieram cá os espanhóis tentar comprar uma operadora de telemóveis que opera no Brasil e levaram um valente "block" porque a empresa que é privada mas não é que dá pelo nome de PT, abreviatura de Portugal Telecom, a empresa de telecomunicações mas que não é bem só de telecomunicações, ESSA é que é total e absolutamente estratégica. MAIS, como nem era essa tal PT que os malandros dos espanhóis queriam comprar, era a operadora móvel brasileira (mas pelo preço de toda a PT), chega-se à conclusão que uma empresa de telemóveis brasileira é mais Estratégica para este país do que uma GALP, uma REN, auto-estradas, hospitais...
É um país muito estranho, digo-vos. Exemplo disso é uns irem dizer que este texto soa a demagogia de Paulo Portas, outros que cheira a Francisco Louçã. E por causa disso é que eu numa hei-de conseguir distinguir esquerda e direita.