Às 20h em ponto desta tarde
O Presidente Cavaco Silva vai hoje falar ao país, isto é, vai falar para o país que tem televisão, que está em casa, que não se deixa enamorar do tempo de verão que ainda se faz sentir.
Cavaco Silva vai falar e muitos apostam, que falando, vai deixar ainda mais dúvidas do que se estivesse calado até, segundo as opiniões mais conservadoras, ao final do seu mandato.
Em ressaca de legislativas, em plena campanha para as autárquicas, Cavaco Silva é, queira quer não, um símbolo do PSD e, nos últimos tempos, um símbolo de como não ser Presidente da Républica.
Se existisse um manual "Como ser Presidente da Républica para tótós" Cavaco Silva aparecia no capítulo: "Coisas que nunca deve fazer durante o seu mandato", mais especificamente nas entradas "A importância de não comer bolo rei"; "Não mandar recados pelos assesores"; "Não ver demasiados filmes dos anos 50" e finalmente "Não interferir nas guerras (naturais) entre partidos".
Cavaco Silva parece incomodado, muito incomodado, de não ter o protagonismo que teve em tempos quando era primeiro ministro e, talvez, não seja só incómodo: é também inveja por certo.
Admitamos: deve ser chato, aborrecido, um tédio enorme (entre outras coisas parecidas a "um tédio enorme" mas que não me lembro agora), ser Presidente da Républica de um país onde não se passa absolutamente nada.
Os poderes do Presidente da Républica são similares aos de um pai com um filho a 2 meses de fazer os 18 anos: pode ralhar (os vetos) mas sabe que o filho vai continuar a fazer exactamente a mesma coisa até conseguir o que quer (passar uma determinada lei).
Como não pode declarar guerra aos Espanhóis, mandar invadir o Brasil ou vender a Madeira à Argentina, Cavaco Silva tentou á força - e com sucesso - ser novamente o centro das atenções num país, que tem por norma esquecer quem é o seu presidente logo depois de o elegerem (só assim se justifcam as re-eleições quase automáticas).
Hoje á noite, às 20h em ponto, Cavaco Silva vai falar ao país que o quiser ouvir. Para seu bem, e para bem da pouca estabilidade que vivemos neste momento, Cavaco Silva deveria explicar tudo, tirar ilações dos seus actos e dos actos daqueles que o rodeiam (que ainda hoje fizeram chegar a notícia ao Correio da Manhã que o PR tem medo dos telefones fixos, facto que vai com certeza ter influência nas acções da Portugal Telecom, daqui a pouco, quando a Bolsa de Lisboa abrir*).
Se não o fizer, ficaremos a saber uma coisa: Cavaco Silva não tem condições para continuar à frente de um cargo que, ao contrário do que pensa, não é a realeza e onde não se admitem intrigas de côrte.
E sim, estou a falar das escutas.
* E se as acções descerem mesmo isso só se deve ao facto de o mercado andar doido e os pequenos investidores em pânico (não oficial porque pelos vistos, a tal da crise internacional já acabou para aí umas 4 vezes desde o início deste período de campanha)