Uma notícia, duas aldrabices (e meia)
Pois é, lembrar-me eu que costumava recomendar à minha Cèlinha: "Vê lá, filha, que nem tudo o que tá escrito na internet é verdade!" - Isto, quando ela era mais novinha e começava a fazer as primeiras pesquisas na internet pròs trabalhos da escola. Até na Wikipedia, antes de obrigarem os editores a identificarem-se, havia uns quantos erros, oh se havia! Lembro-me que o nosso primeiro Nobel, o Prof. Egas Moniz aparecia na mesma página como tendo morrido de duas maneiras diferentes... o que acabou por ser corrigido.
Esta recordação vem a propósito da notícia sobre Cristo, Saramago e Playboy publicada no jornal I. Num único parágrafo, o último (que só tem três linhitas) conseguem "encaixar" duas "inverdades"...
Primeiros - o "Evangelho..." não foi censurado - foi só impedido de concorrer a um prémio; se o gesto é foleiro e digno de um ditador, fica muito longe de ser censura (é o que dá, devem lá ter uma chavalada jovem a escrever as notícias que não viveu tempo suficiente pra ter convivido com essa abominação chamada censura).
Segundos - não foi "o Governo" que fez a barbaridade: foi um tal Senhor Secretário de Estado que se apanhou com um bocadinho de poder nas mãos, e toca a "cortar" naquilo que não lhe agradava. O Sec. de Estado vai ficar na História - num rodapé bem pequenino e mesquinho da página de Saramago na História -, mas provavelmenet daqui a meia-dúzia de anos ninguém se vai lembrar do nome do dito cujo.
E por muito que eu não seja fã de Cavaco, o Tosco - primeiro-ministro da época - e seus ministros, a verdade é que não se sentaram os ministros todos mais o chefe-primeiro em volta de uma mesa, cada um com seu lápis azul, a riscar bocadinhos do "Evangelho" segundo Saramago o imaginou... Lá que ficou tudo muito caladito, ficou: nem Ministro da Cultura (chefe do Secretário Malfadado) nem o Chefe de Todos os Ministros e Secretários... ninguém disse uma palavra. Como diz o ditado, "Quem cala consente".
Terceiros - a meia-aldrabice: havia uma terceira gralha na notícia, que acabou por ser corrigida: dizia-se que Saramago viveu exilado (!!!) - ipsis verbis - em Lanzarote... Se fosse na edição em papel, pronto, tinha saído mesmo assim e não havia lápis corrector que safasse a coisa!
Enfim, coisas de imprensa à portuguesa...
Quanto ao assunto da notícia, pois eu cá se fosse dona da Playboy era capaz de ter feito o mesmo - pelo menos em relação à capa, a única coisa que vi. A fotografia é de um mau gosto que até dói, o Cristo tá com cara de Madalena, a moçoila tá com ar de vítima de episódio de CSI, e a mobília... bem... era moderna há uns 30 anos, e pirosa quanto baste.
Olhando prà foto assim no geral, só me lembro do quadro do Menino da Lágrima...
E disse.