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31 da Sarrafada

31 da Sarrafada

30
Jun10

PT - Telefónica: 1-0; Portugal - Mundo: 0-1

Catarina Campos

 

 

(onde se troca por miúdos as acções da PT; tende paciência: mas este post vai a dobrar e os leitores do meu blog gostam de tudo bem explicadinho)

 

 

Hoje o Estado Português puxou das suas maiúsculas e galões dourados e exerceu o seu "direito" de ir contra a decisão de quase 80% dos DONOS de uma empresa PRIVADA de vender, por um preço que estes DONOS da empresa-mãe consideraram razoável, uma empresa subsidiária ao outro sócio dessa mesma empresa subsidiária.

 

A escolha da data para a Assembleia Geral onde se decidiu a venda por maioria dos donos e depois se boicotou a mesma venda por uma minoria de outro dono, veio mesmo a calhar: no dia seguinte a um remake de Aljubarrota, desta feita ganha pelo inimigo e na semana antes da decisão do Tribunal Europeu em acabar com as goldens shares. Na Batalha da PT/Telefónica, ganhou o autismo português.

 

O que é que ganha a PT e o país com isto, para além de assistirmos a esta coisa bizarra de ver a esquerda defender um salazarento "orgulhosamente sós?". Nada. Mas se fosse nada, era simpático. O problema é que as bolas de neve começam a rolar devagarinho e depois levam tudo à frente.

 

Amanhã a PT vai abrir em queda. Hoje, como ainda se fartou se subir antes da suspensão de transacção e só voltou ao mercado depois das 3 da tarde, não se notou muito. Amanhã cai tudo, arrastado pelo dumping da PT, pelas vendas automáticas e pela TOTAL DESCONFIANÇA no mercado, que esta porra causou. É que esta merda não é orgulhosamente sós, pá! Os mercados são internacionais, Portugal está numa situação complicadíssima, mas assim não há operação de charme a pedinchar dinheiro que nos valha. O sinal hoje foi: "venham cá investir, mas nós é que mandamos, mesmo contra as leis vigentes no mercado e na tal UE que não interessa para nada quando for para defender aquilo que é nosso". Como se, ainda por cima, essa expressão "defender o que é nosso" quisesse dizer alguma coisa. A PT é dos accionistas, não é "nossa". Enquanto for sedeada em Portugal, é uma empresa portuguesa, sujeita às nossas leis. Os donos podem ser portugueses, espanhóis, chineses ou marcianos, o que interessa é que seja bem gerida e crie riqueza e emprego e essa coisada toda. Até parece que ter um dono como o Estado português é sinal de alguma eficiência acrescida!

 

Daqui a uns dias, quando o Tribunal Europeu se pronunciar sobre a ilegalidade das goldens shares e quando o preço das acções da PT tiver mesmo lá no rasinho em baixo, admirem-se que a Telefónica lance uma OPA sobre a PT. Pois é. E se não for a Telefónica e quando isto estiver mesmo em saldos, empurrado por decisões políticas de "defesa do que é nosso" sem pensar nas consequências, não se preocupem: do lado de lá do mundo, nas terras do sol nascente, o que não falta é liquidez e vontade de dominar o ocidente.

 

(Créditos de imagem: Anssi Koskinen via Flickr sob uma Licença CC)

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