Era uma vez um rapaz que estava na piscina com os amigos. Conversa para aqui, conversa para ali e os amigos decidem desafiar o tal rapaz a saltar da prancha mais alta que havia na piscina.
O rapaz disse aos amigos que, para ele, saltar da prancha mais alta que estava na piscina "era canja" e que fazia isso e muito mais: ao saltar, daria "um mortal encarpado com pirueta à retaguarda" e, ao ao entrar na água fria da piscina, ainda "cantaria o hino nacional em Dó Maior".
Se bem o disse bem o fez... ou quase: primeiro subiu até à última plataforma, a custo e com esforço. Quando chegou ao topo acenou aos amigos e gritou "Agora é que vão ver!!!" e dirigiu-se para a prancha. Olhou para baixo e teve uma vertigem mas não deu parte fraca. Esfregou as mãos, ajeitou o cabelo e ficou ali parado. A olhar para água. A olhar para prancha.
Por um lado já não podia voltar atrás pois os amigos, lá em baixo em segurança, incentivavam-no a saltar e ele já tinha assumido o compromisso.
Por outro lado a vertigem, aquela distância aparentemente infinita dizia-lhe que nem sequer chegaria a sentir a água fria na pele e foi nesse momento que reconheceu, para si mesmo, que nem sequer sabia o que era um "mortal encarpado".
A vergonha de descer pelas escadas seria uma derrota; Saltar da prancha, mesmo sem mortais ou piruetas, seria uma vitória e uma demonstração de que tinha em si o que era preciso para tomar decisões difíceis.
Atrás de si, um estranho, disse-lhe: "Já saltavas, não?"
Fotografia: Borkur Sigurbjornsson (CC by-nc-nd)